domingo, 20 de maio de 2012

Os “Vencidos” também têm rosto e nome


É preciso que alguém seja a favor dos vencidos.[1]

            Os nossos governantes, em sua maioria, não governam para todos. Defendem os interesses de sua classe social, bem como daqueles que lhes patrocinam as campanhas. Se você é rico, todas as portas se abrem. Você pode ser amigo do Governador de algum Estado, pode ser recebido no Gabinete dos Secretários de Governo ou de Senadores, Deputados e Vereadores. Se é um “comum”, alguém da classe média baixa ou mesmo pobre, que se contente com os protocolos administrativos das repartições públicas e seus prazos. Agora, se for um “miserável”... Dificilmente terás quem olhe por você. Que digo! Para os extratos inferiores da sociedade, quando os endinheirados ou poderosos se incomodam com a presença dos “miseráveis”, eis que o “Estado” surge na vida dessas pessoas (sim, são seres humanos também!) na presença da Polícia, da Guarda Municipal ou dos funcionários (servidores?) das Secretarias de Assistência Social.
            Há alguns anos atrás conheci uma família muito pobre. Miserável mesmo. Moravam às margens da linha do trem na favela do Arará, em Benfica. Uma mãe e cinco filhos. Quatro meninas e um menino. Camila, Raquel, Fabiana, Rafaela e Rafael. Não lembro, hoje, o nome da mãe. Convivi mais diretamente com as crianças e a adolescente, Camila. A família passava por privações materiais severas. Recebia ajuda de duas instituições espíritas, que lhe ofertavam cestas básicas. Era uma ajuda importante, mas sinceramente, não sei se suficiente. Penso mesmo que não. Viveram o contexto de uma favela dominada pelo tráfico de drogas e a violência daí decorrente. A filha adolescente conseguiu casar-se e mudou-se para o Nordeste. Parece-me que foi a que teve melhor sorte. As outras três resvalaram pelo mundo das sensações oferecido pelas relações afetivas sem compromisso. E sofreram as consequências disso. Doenças sexualmente transmissíveis e gravidez fizeram parte do cotidiano destas mães recém-saídas da infância. O menino flertou com o tráfico de drogas. Contam, hoje, que ele largou essa vida e tem trabalho honesto.
            Recupero, em especial, a história da Fabiana. Salvo engano, ela foi a primeira a engravidar. Perdi, por alguns meses, o contato com ela. Quando tornei a vê-la, eis que estava com a gravidez avançada. “Fabiana, onde você está fazendo o Pré-Natal?” Perguntei-lhe. “Tio, ainda não comecei. Fulana de tal vai me levar!” Respondeu-me. “Não deixe de ir, é importante!” Terminei a conversa. Na semana seguinte, o diálogo praticamente se repetiu. E na outra semana, eis que escuto a mesma coisa. “Fabiana, amanhã às 8hs no lugar tal para que eu te leve no Posto de Saúde, para você começar o Pré-Natal.” Levei. Era olhado com desconfiança pelos servidores da Saúde que, provavelmente, julgavam-me o pai da criança que viria. Chamei uma amiga para me acompanhar, para quebrar um pouco dessa desconfiança. Eis que, num determinado momento, a Fabiana abandona o Pré-Natal. Deixa-nos esperando-a. No segundo ou terceiro furo conosco, fomos procura-la e eis que a encontramos “alterada” psicologicamente. Sob o efeito de drogas? Quem sabe? Desistimos. Pouco depois seu filho nasceu. Chamou-o de Douglas. Eis que, algum tempo depois, com menos de um ano, se não me engano, a criança morre.
            O tempo passou e as notícias que ia recebendo da Fabiana não eram boas. Contraíra Sífilis, tivera outros filhos que não ficaram sob sua guarda. Foram dados à adoção. Relataram-me que fora internada com transtornos mentais algumas vezes. As notícias sempre nos causaram muita tristeza.
            Na metade final de Março de 2012, quando eu passava próximo ao Metrô de Triagem, voltando de Bento Ribeiro, ao olhar o trânsito para atravessar a rua, pareço ver alguém conhecido. Voltei o rosto rapidamente. A pessoa, que atravessava em sentido contrário e fizera o mesmo movimento de rosto que fiz, só que na minha direção reconheceu-me e teve uma reação mais rápida que a minha: “Marco Aurélio!” Gritou, sorrindo e veio ao meu encontro. “Fabiana!”, exclamei, e me assustei. A menina que vira anos atrás alegre e bonita, apesar das muitas dores que sofreu, estava alquebrada, suja, com cortes nos braços e uma trouxa de roupas com um coelho gigante que se destacava, como a informar que uma infância recusada teimava em resistir. Hoje com 22 ou 23 anos, relatou-me que estava morando na rua. Não conseguia entender-se com sua mãe que, a essa altura da vida, também passava por problemas de saúde que lhe incapacitariam ao trabalho. O único que provia o sustento do lar seria seu irmão mais novo. Como ela, Fabiana, não conseguia levar nada para casa, não se sentia a vontade de permanecer ali. E a notícia que mais me machucou: é usuária de crack... Perguntei-lhe se não tinha interesse em procurar um abrigo e buscar tratamento para a dependência química. ELA DISSE QUE SIM! Procurei lembrar se conhecia algum abrigo para mulheres. Não consegui. Perguntei-lhe onde estava dormindo. “Aqui perto do Metrô, numa marquise!” Respondeu-me. Disse que tinha a expectativa de ser recolhida quando os funcionários da Secretaria de Assistência Social passassem. Fiquei de ver o que poderia fazer por ela. Saí desse encontro machucado, triste e preocupado. Em casa, tive a ideia de, pelo Twitter, entrar em contato com o Secretário Municipal de Assistência Social, o Sr. Rodrigo Bethlem. E ele me respondeu, como podem ver abaixo:

            Pouco depois, ele pediu-me um endereço de email para entrar em contato. Solicitei-lhe que me adicionasse no Twitter para que lhe mandasse isso por mensagem direta. Ele assim o fez. No dia 22 de Março de 2012 recebi as seguintes mensagens:
1ª) “Em 22/03, Rodrigo Bethlem escreveu:
Zeca,
Por favor veja onde um usuario que deseja se tratar se encontra, com o sr marco aurelio que eu copio”
2ª) “Em 22/03, servicodeabordagem social
servicodeabordagemsocial@gmail.com
            22 mar                     
Senhor Marcos,
Poderianos informar seu telefone e o local onde se encontra a pessoa que esta precisando De ajuda.  Zeca”
                Respondi no mesmo dia:
“Zeca, tudo bem? Senhor só Jesus, certo? Rsrsrs Fique à vontade de tratar-me por você. Meu celular é XXXX-XXXX. A moça está dormindo nas imediações do Metrô de Triagem, próximo à entrada do bairro Carioca (que está sendo construido pela Prefeitura). Encontrei-a na terça-feira. Ela me deu a entender que ficaria por ali. Tenho disponibilidade para estar lá, procurando-a, por volta das 12:15 hs. O nome dela é Fabiana. É negra, baixa (não sei estimar a altura), declara 23 anos (deve estar correta a idade) e tem, se não me engano, dois ferimentos recentes em um dos braços (tem pontos recentes).
Se você me ligar as 12hs amanhã eu parto para lá.
Grande abraço!
Marco Aurélio.”
            Esperei uma semana e nada. No dia 29/03 tornei a escrever:
“Zeca, tudo bem? Estou no aguardo do seu contato. Segue, novamente, o meu telefone XXXX-XXXX.
Grande abraço!”
            O tempo passou. Não vi mais a Fabiana, apesar de ter andado pelo mesmo lugar que a encontrei na primeira vez. Uma senhora, grande amiga minha, informou-me que a viu na UPA de Manguinhos, bem debilitada. Preocupei-me, mas mesmo assim esperei. Em vão.
            Esta semana, na última sexta-feira (18/05), quando ia dar uma caminhada na praia para relaxar as ideias, quando olho para o outro lado da Av. Dom Hélder Câmara, em Benfica, na altura do Supermercado Prezunic, quem eu vejo? Fabiana! Sem trouxa de roupas, com vestes muito mais sujas que da primeira vez, cabelos arrepiados, mais magra e mancando. Atravessei, correndo, a rua e a abordei. “Marco Aurélio!”, Disse, surpresa. Cumprimentei-a. Disse que não estava conseguindo colocar sua sandália porque surgiram bolhas em seu pé, que a machucavam. Notei que tinha muito mais “tiques nervosos” que quando a encontrei em Março. Relatou-me que dormia, agora, embaixo do viaduto de Benfica. Perguntei-lhe, por três vezes, senão me engano, se desejava ir para um abrigo e tratar-se. ELA, NOVAMENTE, DISSE QUE SIM! Pediu-me um salgado. Pedi para tirar uma foto sua, com o celular, o que ela concordou. Da primeira, que a mostrei, ela não gostou. “Ah... Essa está feia!” Disse. “Então, eu tiro outra”, Falei-lhe. Esperei-a mais para preparar-se e tirei. Mostrei-lhe e ela gostou. Ainda existe esperança naquele coração, afinal, preocupou-se como apareceria. NÃO DESISTIU TOTALMENTE DE SI. Fabiana apaga-se, lentamente, como uma vela. Como uma usuária de crack. Como vários usuários de crack.  Prometi que buscaria ajuda para ela. Saí desse encontro com raiva, muita raiva, pela promessa não cumprida de ajuda do Sr. Rodrigo Bethlem.
            Onde buscar ajuda agora?







[1] HUGO, Victor. Os Miseráveis. São Paulo: Martin Claret, 2007, vol. 2, pág. 404.

sábado, 12 de maio de 2012

Criadouros de Mosquitos da Dengue no Mergulhão da Pça XV

Acredite! Na cidade do Rio de Janeiro, vitimada por uma epidemia de dengue, encontramos, em pleno Centro financeiro e cultural, uma situação desse tipo. Depois as autoridades querem ter moral para responsabilizarem a população pela disseminação da doença.



Agora aguardemos as providências das ditas "autoridades competentes"!