sábado, 22 de dezembro de 2012

O Teatro Municipal do Rio de Janeiro é para todos?




            Estive, pela primeira vez, no Teatro Municipal, na última quinta-feira (20/12). Assisti ao Balé “O Quebra-Nozes”. Realizei, naquela noite, dois antigos desejos. Mas algumas coisas me chamaram a atenção.
            No site do Teatro (http://www.theatromunicipal.rj.gov.br/index.html ) pude ver a programação do mês de Dezembro e notei que os ingressos não são nada convidativos. O mais barato, para a Ópera “O ouro não compra o amor” e para a série “Turmalina Pianistas”, da Orquestra Sinfônica Brasileira, custava R$: 20,00, o que para as classes populares não é tão suave. Não sei se os amigos já tiveram oportunidade de conversar com crianças mais pobres. Há alguns anos lido com elas. A esmagadora maioria delas nunca foi ao cinema. Sim, ao cinema! E vocês devem lembrar que o ingresso do cinema é um pouco mais barato que o mais barato do Teatro Municipal. No cinema, digamos que o ingresso é democrático. Você tem oportunidade de sentar-se em qualquer lugar, de acordo com sua escolha e disponibilidade. No Teatro Municipal não. Os melhores lugares são bem mais caros. Para a Opereta “A viúva alegre”, a frisa e o camarote custavam R$: 480,00! Ah... Logo do camarote? Você está forçando, não é? Pois bem, o ingresso da Platéia e Balcão Nobre custava, para o mesmo espetáculo, a módica quantia de R$: 80,00! Alguém pode lembrar que o Teatro Municipal oferece promoções de ingressos mais baratos, a R$: 1,00. Sim! Aos domingos, 11 horas da manhã! Quando as pessoas mortais, comuns, das classes populares estão com o umbigo encostado no fogão preparando o almoço da família!
            Outra coisa que me desagrada é a restrição quanto ao vestuário. Sim! Eu que adoro andar de bermuda e sandália (ou mesmo chinelo), fui de calça. Lá você não pode entrar se trajar: “bermuda, short, top, camiseta sem manga, bem como chinelos”. Legal! Camisa sem manga não pode, mas as mulheres entrarem com aquele vestido que não tem alças, que deixa os ombros à mostra, pode. Hum... Essa restrição toda às roupas leves será que se deve ao nosso rigoroso clima, com seu frio implacável? Acho que se dependesse de alguns ali, ainda nos vestiríamos de terno, os homens, e as mulheres com aqueles vestidos de festa para ingressarmos no Teatro.
            O Teatro Municipal recebe/recebeu ajuda financeira da Rede Globo, a mesma que promove o Criança Esperança, que financia ONGs em cujas atividades, para a população mais carente, consta aulas de balé. No entanto, parece que isso não faz diferença para o corpo de Balé do Municipal. Em “O Quebra-Nozes” não vi bailarinos negros. Havia um de pele um pouco mais morena, mas com cabelos lisos. Na orquestra vi alguns, acho que dois, um flautista e um baixista.  Comprei o programa do Balé e, no final, na página 35, há uma foto do grupo. Nenhum negro. Entre os Escola Estadual de Dança Maria Olenewa, que também tem uma foto na mesma página, apenas identifiquei, com muito custo, 5 crianças negras, de um grupo que deve girar em torno de 70 pessoas. Como justificariam isso? Gostaria de ler/ouvir esclarecimentos quanto a isso.
            Qual a conclusão que chego com isso? De que o Teatro Municipal do Rio de Janeiro, administrado pelo Governo do Estado, não é para todo público. Priorizam os mais endinheirados. Quando promovem espetáculos mais acessíveis aos populares, o fazem em horários exóticos, onde as classes mais baixas terão dificuldades de comparecer. Dificilmente pobres e ricos ombrearão nesse espaço. E mesmo o balé, ao que me parece, tem um recorte de classe, para não dizer mesmo étnico.


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