Estive,
pela primeira vez, no Teatro Municipal, na última quinta-feira (20/12). Assisti
ao Balé “O Quebra-Nozes”. Realizei, naquela noite, dois antigos desejos. Mas algumas
coisas me chamaram a atenção.
No
site do Teatro (http://www.theatromunicipal.rj.gov.br/index.html
) pude ver a programação do mês de Dezembro e notei que os ingressos não são
nada convidativos. O mais barato, para a Ópera “O ouro não compra o amor” e
para a série “Turmalina Pianistas”, da Orquestra Sinfônica Brasileira, custava
R$: 20,00, o que para as classes populares não é tão suave. Não sei se os
amigos já tiveram oportunidade de conversar com crianças mais pobres. Há alguns
anos lido com elas. A esmagadora maioria delas nunca foi ao cinema. Sim, ao
cinema! E vocês devem lembrar que o ingresso do cinema é um pouco mais barato
que o mais barato do Teatro Municipal. No cinema, digamos que o ingresso é
democrático. Você tem oportunidade de sentar-se em qualquer lugar, de acordo
com sua escolha e disponibilidade. No Teatro Municipal não. Os melhores lugares
são bem mais caros. Para a Opereta “A viúva alegre”, a frisa e o camarote
custavam R$: 480,00! Ah... Logo do camarote? Você está forçando, não é? Pois
bem, o ingresso da Platéia e Balcão Nobre custava, para o mesmo espetáculo, a
módica quantia de R$: 80,00! Alguém pode lembrar que o Teatro Municipal oferece
promoções de ingressos mais baratos, a R$: 1,00. Sim! Aos domingos, 11 horas da
manhã! Quando as pessoas mortais, comuns, das classes populares estão com o
umbigo encostado no fogão preparando o almoço da família!
Outra
coisa que me desagrada é a restrição quanto ao vestuário. Sim! Eu que adoro
andar de bermuda e sandália (ou mesmo chinelo), fui de calça. Lá você não pode
entrar se trajar: “bermuda, short, top,
camiseta sem manga, bem como chinelos”. Legal! Camisa sem manga não pode,
mas as mulheres entrarem com aquele vestido que não tem alças, que deixa os
ombros à mostra, pode. Hum... Essa restrição toda às roupas leves será que se
deve ao nosso rigoroso clima, com seu frio implacável? Acho que se dependesse
de alguns ali, ainda nos vestiríamos de terno, os homens, e as mulheres com
aqueles vestidos de festa para ingressarmos no Teatro.
O
Teatro Municipal recebe/recebeu ajuda financeira da Rede Globo, a mesma que
promove o Criança Esperança, que financia ONGs em cujas atividades, para a
população mais carente, consta aulas de balé. No entanto, parece que isso não
faz diferença para o corpo de Balé do Municipal. Em “O Quebra-Nozes” não vi
bailarinos negros. Havia um de pele um pouco mais morena, mas com cabelos
lisos. Na orquestra vi alguns, acho que dois, um flautista e um baixista. Comprei o programa do Balé e, no final, na
página 35, há uma foto do grupo. Nenhum negro. Entre os Escola Estadual de
Dança Maria Olenewa, que também tem uma foto na mesma página, apenas
identifiquei, com muito custo, 5 crianças negras, de um grupo que deve girar em
torno de 70 pessoas. Como justificariam isso? Gostaria de ler/ouvir
esclarecimentos quanto a isso.
Qual
a conclusão que chego com isso? De que o Teatro Municipal do Rio de Janeiro,
administrado pelo Governo do Estado, não é para todo público. Priorizam os mais
endinheirados. Quando promovem espetáculos mais acessíveis aos populares, o
fazem em horários exóticos, onde as classes mais baixas terão dificuldades de
comparecer. Dificilmente pobres e ricos ombrearão nesse espaço. E mesmo o balé,
ao que me parece, tem um recorte de classe, para não dizer mesmo étnico.
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