Triste, muito triste, vermos da parte de alguns a falta de sensibilidade na questão dos bombeiros manifestantes que foram presos, com brutalidade, por uma Polícia que ganha salários tão baixos quanto os deles. O artigo de Aristóteles Drummond, publicado no jornal O Dia de hoje (9/6/2011) enquadra-se neste caso. Semelhante postura não devia surpreender, uma vez que, presentemente, este jornal notabiliza-se por propagandear os feitos do governo do Estado do Rio de Janeiro e da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. Noticia os feitos e ameniza, quase escondendo, os mal-feitos, que não são poucos.
Drummond fala em “princípios sagrados do respeito ao comando das forças militares”, que teriam sido ignorados pelos bombeiros. Gostaria de ler nas páginas deste jornal alguém reportar-se ao respeito à dignidade humana ferida, ao se receber, para o desempenho de atividade profissional de risco para a própria vida, um salário miserável. Estou seguro que o atual governador que, ao que parece, se acha dono do Palácio Guanabara, não sobreviveria com um salário de R$:900,00, ainda que esse salário sofresse algum reajuste na casa dos 5% ou 6%, conforme deseja propor aos bombeiros. Acho que esse valor não paga nem o IPTU de sua residência no Leblon... Mas, não acreditem que o jornalista Drummond sobreviva com semelhante salário. Por isso sente-se confortável na sua crítica perfumada.
Arrota-se que os bombeiros violaram as leis, que erraram em suas posturas durante o protesto. Ao estagiar num colégio em Niterói, o professor Luiz, ao atender uma criança que lhe informava que a diretora dera uma ordem que tanto ele quanto a criança consideraram irrealizável, respondeu com maestria algo nestes termos: “Meu filho, ordem idiota foi feita para ser desrespeitada.” Nem tudo que está sob o amparo legal é moral. As instituições militares procuram, com muito rigor, enquadrar seus praças, oriundos dos estratos sociais mais pobres da população. Se vivo fosse em 1910, Drummond certamente seria daqueles que condenariam, com veemência, a Revolta da Chibata, clamando punição exemplar para aqueles que protestavam contra maus-tratos e condições degradantes de trabalho. Sérgio Cabral - imagino- se comportaria como os governantes de então que prometeriam anistias para, logo depois, trair-lhes a confiança, punindo-os severamente. Aristóteles Drummond e Sérgio Cabral seriam daqueles que, também, seriam contra a Queda da Bastilha, se estivessem na França de 1789, afinal, a legalidade fora quebrada. Mas a legalidade foi quebrada em favor de quem? A defesa à legalidade refere-se à legalidade conveniente para quem? Para os que desejam manter o status quo, não é Sérgio Cabral? Não é Aristóteles Drummond?
A questão que incomoda a ambos, a despeito do delírio do jornalista (de que os bombeiros devem reconquistar seu lugar junto ao povo) é a de que o movimento dos bombeiros recebeu e recebe apoio popular. É urgente que essa classe seja valorizada como merece, bem como todo o setor público Estadual que é vilipendiado no governo de Sérgio Cabral. Afinal, para ele, médicos são vagabundos e bombeiros são vândalos. O que pensará esse governador a respeito dos professores que resolveram parar, em greve?
Por fim, o jornalista tenta pautar os cidadãos responsáveis, afirmando que o movimento dos bombeiros não merece aplausos. Ora, acaso está chamando de irresponsáveis a maioria da população?
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