Eu entendo a decepção com o governo Dilma/Temer e compartilho dela. É uma lástima, para mim, que a situação tenha chegado a esse ponto. A todo o momento repito que as esquerdas devem bater a poeira do PT de suas sandálias se querem, de verdade, produzir algo de útil e emancipador para o povo. Entretanto, em razão do candidato que está do outro lado - que se apresenta como novo mesmo sendo e representando o velho na política - vou votar no Haddad praguejando muito.
O
PT errou muito, se aliou ao que há de pior na política (inclusive o PP, partido
que, durante muitos anos abrigou Jair Bolsonaro e é dos que mais foi citado na
Lava Jato). Seus quadros deslumbraram-se com o poder e entraram nos esquemas de
corrupção que já existiam antes do partido, quando não criaram ou aperfeiçoaram
outros. Isso, à despeito do discurso pela ética e honestidade que seus
partidários faziam antes de assumirem as estruturas de poder. Se por um lado
suas políticas sociais foram benéficas para grandes setores da população, suas
bases foram assentadas na exportação de commodities (matérias-primas)
principalmente para a China que, então, crescia em torno de 15% ao ano. Quando
esse crescimento chinês diminuiu pouco mais que a metade, a grana - que
alimentava os programas sociais e, também, enchia o pote dos mais ricos, vide
os lucros estratosféricos que tiveram no período - começou a faltar e a turma
endinheirada pressionou pelas reformas liberalizantes (privatização do que
fosse possível, reforma previdenciária, trabalhista, teto dos gastos públicos)
com o único objetivo de sequestrar, para si (enquanto classe) o Estado. É a
turma que prega e proclama "menos Estado" para os pobres, mas quer o
Estado para si e para os seus. Quando o PT não entregou as reformas desejadas e
o PMDB - quadrilha aliada do Temer - sinalizou que as faria (lembra de um
documento chamado "Uma ponte para o futuro"?), a turma agitou o
impeachment de Dilma (que fazia governo desastroso e começava a implementar
programa de Aécio, mas não com a velocidade que o "Mercado"
desejava). Temer, com o Congresso alinhado com ele e com essa agenda, promove
essas reformas que a gente viu que, à despeito das promessas de Meirelles e
Temer, não resolveram a economia e ferraram com os pobres.
Bolsonaro,
para mim, representa o contrário de tudo que acredito em termos de política e
valores humanos. Seu evasivo plano de governo e seu discurso moralista escondem
uma agenda econômica liberalizante que vai tornar a vida dos mais pobres muito
mais difícil do que já é. Seu potencial ministro da economia já sinalizou que a
PEC do Teto dos gastos (que retira investimentos da educação e da saúde
públicas) deveria ser aprofundada. Bolsonaro já sinalizou que prefere Reforma
Trabalhista mais dura. Daqui a pouco as pessoas estarão trabalhando apenas para
pagar comida e passagem pro trabalho. Se ficarem doentes, grávidas ou forem se
aposentar, passarão apertos sérios. Ele, certamente, vai aprofundar as reformas
que jogaram a popularidade de Temer no subterrâneo.
O
outro problema não menos grave de sua candidatura são suas posturas e
declarações públicas. À exaustão, já sinalizou que é racista, machista,
homofóbico. Para além disso, despreza os Direitos Humanos (nossa garantia
contra os abusos dos agentes do Estado) quando defende a prática da tortura
(crime contra a Humanidade) e exalta figuras historicamente odiosas e
desprezíveis, como Brilhante Ustra, torturador que, na ditadura militar,
colocava ratos vivos nas vaginas das presas políticas e mostrava, à seus filhos
(crianças), seus pais torturados (sujos de sangue, vômito e urina e com
hematomas). A simpatia do candidato à essas coisas não quer dizer que ele
tomará às mãos a prática delas, mas sim que seus simpatizantes se sentirão
autorizados a realizá-las. Trata-se de consentimento.
Num
ambiente desses, não sei se a oposição organizada será viabilizada, uma vez que
o candidato já sinalizou que não admitirá ativismos (leia-se
"Manifestações). Some-se à isso que o cara já admitiu "aliviar"
a barra dos policiais que eventualmente matassem em serviço (já fazem muito,
farão mais). Ora, se as atuais manifestações que incomodam o poder (desde o
período do PT, diga-se de passagem) já são reprimidas com violência, o que
esperar quando a PM tem licença para fazer o que entende? Veja que isso
inviabiliza, ou torna quase impossível, qualquer oposição. E não vale dizer que
garantias constitucionais freariam ele, já que, além de não mostrar apreço pela
democracia, seu vice já manifestou intenção de realizar constituinte com
notáveis que, escolhidos por eles, fariam uma constituição conforme seus
desejos.
Penso,
portanto, por tudo que elenquei, que fazer oposição ao Haddad será mais viável
e menos perigo que fazer à Jair Bolsonaro. Por isso, sem qualquer empolgação, e
lastimando profundamente, votarei 13. Seria melhor, para o país, que o segundo
turno se desse com candidatos diferentes destes que estão aí. Fugiria à
polarização que, neste momento, está sendo explosiva.