domingo, 24 de março de 2013

Repúdio à Indiferença Política



            Cidadão carioca,
1 – Dizem que os índios tamoios, ao verem as casas construídas pelos soldados de Estácio de Sá as chamaram de “cariocas”, ou seja, casa de branco (“oca” = casa e “cari” = branco). Se for verdade, o título do qual você se orgulha e que encabeça essas linhas tem origem indígena. Mas você não anda muito preocupado com os índios, não é verdade? Para você, eles estão em algum rincão perdido no meio da Amazônia, passando o dia caçando, pescando e dançando. Trabalho, que é bom, nada, né? Passam o dia de bobeira, para você... Os que estavam na Aldeia Maracanã (palavra que, suspeito, tem origem indígena), ah, esses não são índios mesmo, né? Andando na cidade, com roupas de “homens brancos”, até celulares usavam... Imagine... Foram removidos do Museu do Índio e você nem ligou; foram tratados como animais; os que os apoiavam, tidos como vagabundos e arruaceiros, também receberam gás de pimenta nos olhos e foram carregados como coisas e você nem aí para a dor do “outro”...
2 – Famílias estão sendo removidas de suas casas, em nome das grandes obras para os “grandes eventos” (Copa do Mundo e Olimpíadas) que ocorrerão na cidade. Muita dor, muito desespero, muita insegurança (psicológica, da parte das vítimas e jurídica, pelo$ abu$o$ em nome do$ intere$$e$ e$cu$o$). E com cara de paisagem, você não está nem aí para a dor do “outro”...
3 – Usuários de drogas, especificamente de crack, que ficam pelas ruas são tratados como animais pelos agentes da Secretaria Municipal de Assistência Social, levados à força para lugares onde não recebem tratamento adequado, com o único objetivo do Poder Público de os tirar das vistas da população, numa ação criticada por diversos especialistas na área da saúde mental. E você, que tem “nojinho” dos “cracudos” acha a medida excelente, afinal, você não está nem aí para a dor do “outro”...
4 – Os filhos dos pobres, que estudam em escolas municipais, continuam sendo aprovados automaticamente através de um dispositivo “malandro” da Secretaria Municipal de Educação chamado “média global”. Servidores da Educação denunciam a situação, bem como a precarização das condições de trabalho e carreira. Profissionais da área abandonam carreira pública diante do quadro sinistro; as crianças recebem educação “de fachada” e terão dificuldades futuras por isso. E você não está nem aí para a dor do “outro”...
5 – Hospitais Municipais onde os pacientes esperam horas para serem atendidos; onde suas marcações de exames especiais e consultas, feitas pelo SisReg (que apenas torna invisível a fila, retirando-a da porta das unidades), demoram meses, até mais de um ano; onde UPAs e Clínicas da Família são bonitas por fora, mas pouco funcionais por dentro, por causa da falta de profissionais; onde os profissionais da Saúde sofrem, cotidianamente, com a precarização das condições de trabalho e de carreira; Profissionais que, muitas vezes, abandonam a carreira pública por causa disso. E você não está nem aí para a dor do “outro”...
            O abuso dos “poderosos” conta demais com sua indiferença Política. Precisa disso para manter-se no lugar onde está. Uma amiga de UFF, Elizabeth Gama, ao referir-se a experiência de seu pai, vizinho do quartel da Polícia do Exército, onde funcionou o DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna), palco de atrocidades cometidas por militares no período da Ditadura Militar, ao “entrevista-lo” a respeito, este respondia: Eu não fazia a menor ideia do que ocorria ali, do que ocorria no país. Pra mim estava tudo "normal", meu salário era bom”. Uma professora da mesma universidade, Samantha Quadrat, numa disciplina sobre Franco e Pinochet, lembrou, em sala a mesma coisa. Uma região cheia de prédios em torno do quartel e ninguém viu nada de errado acontecer...
            Aos indiferentes politicamente, àqueles que não estão nem aí para a dor do “outro”, quero dedicar os seguintes pensamentos:
"Este lugar, o mais horrendo e ardente do inferno, está reservado para aqueles que, em tempos de crise moral, optaram pela neutralidade ."
Dante Alighieri
“Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.”
Apocalipse, 3:16.
“− Será suficiente não se fazer o mal, para ser agradável a Deus e assegurar uma situação futura?
− Não: é preciso fazer o bem, no limite das próprias forças, pois cada um responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de fazer.”
(Pergunta 642, de O Livro dos Espíritos − Allan Kardec)
O que me assusta não são as ações e os gritos das pessoas más, mas a indiferença e o silêncio das pessoas boas”.
Martin Luther Kink Jr.
“Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel, acredito que "viver significa tomar partido". Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão e de tomar partido. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.”
Antonio Gramsci

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