quarta-feira, 19 de junho de 2013

Algumas impressões sobre as manifestações, que construí a partir do que vi e do que li por aí.


Em letras vermelhas, o que acrescentei depois, em 23/06. A foto é da manifestação do dia 20/06. Se o texto sofrer novas revisões, coloco-as com outra cor.


1 - Se minha memória não está falha, as manifestações que se relacionam ao aumento das passagens, começaram através (ou por causa) da militância política dos partidos de esquerda, especificamente Psol e PSTU, o que ocorreu, também, no caso da Aldeia Maracanã. E isso antes do aumento, enquanto havia, apenas, a previsão do aumento. Lembro-me de uma realizada na Av. Pres. Vargas, nas pistas sentido Zona Norte, na altura da Prefeitura, também num fim de tarde. Lembro que havia poucas pessoas e que foram duramente reprimidas pela Polícia;


2 - As manifestações tomaram essas dimensões porque agregaram em seu corpo outras demandas, que não são menores, mas não tinham protagonismo, ou não gozavam da visibilidade alcança pela "demanda original". 

2.1 - A questão da qualidade dos Serviços Públicos essenciais (Saúde e Educação); 

2.2 - A "desidentificação" com partidos políticos. Os cidadãos comuns não se sentem mais identificados e representados por estas instituições. Alianças partidárias espúrias e dificuldade de mapear a ideologia dos partidos contribui para isso. Acredito que suas estruturas de poder e hierarquização também não são atraentes, ou convidativas, para os cidadãos não acostumado a estas formas de organização. Somado a isso, desconfiança quanto a eficácia dos canais institucionais para o atendimento de suas demandas. Explico, tentando dar exemplos: o cidadão critica, por meios oficiais, a má qualidade de um serviço público e não é atendido em sua demanda; a estrutura de determinado serviços público (pode ser a Saúde e a recente "RIOSAÚDE") será alterada e ele não participa das discussões a respeito dessa mudança, pela "pressa" mau-caráter de maus políticos com interesses subterrâneos, que não prestam informações públicas a respeito, bem como marcam audiências públicas em horários onde os cidadãos comuns estão envolvidos em suas atividades profissionais. Existe, portanto, uma CRISE DE REPRESENTATIVIDADE, sintoma de um modelo político que está esgotado. Algo novo, oriundo de uma REFORMA POLÍTICA deve ser PENSADO E DISCUTIDO COLETIVAMENTE, abrindo canais de participação POPULAR eficazes. 

3 - As MANIFESTAÇÕES receberam distintos tratamentos da mídia. Um pouco de leitura de jornais, um pouco de atenção ao que circula nas redes sociais, pode demonstrar isso. Demonizados, num primeiro momento. Divinizados, quando as manifestações cresceram. A mídia acompanhou o movimento das marés humanas. Tenta manter discurso de desqualificação na minoria que insiste no recurso à violência. Ao mesmo tempo em que exalta os "manifestantes pacíficos", dá larga cobertura às ações violentas. Tive a impressão que nas manifestações do dia 20/06 a violência dos manifestantes recebeu muito maior tratamento do que a da Polícia. A cobertura midiática, então, parece dar a quem não esteve presente, a sensação de que, em todo momento, a manifestação foi uma praça de guerra. Eu sou contra violência. Tenho minhas referências em Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr. A leitura que faço da violência é a de que é tomada por muitos como "desforra", como uma vingança de quem, em outros momentos, apanhou. E sabemos que não apanharam pouco. O que me leva a crer nisso? Duas coisas: um relato e o que vi na Av. Rio Branco ontem. Um amigo do Mestrado disse-me que assistiu às imagens dos policiais sendo atacados na ALERJ num bar. Sabe qual foi a reação do povo que estava presente? EUFORIA. COMEMORARAM. Ontem (18/06/2013) na Av. Rio Branco, vi diversos cartazes com duas imagens, a saber, a dos dois jornalistas que foram atingidos por balas de borracha em São Paulo. Closes de seus rostos feridos e uma frase: "Não esqueceremos". Além disso, também nas manifestações do dia 20/06 pude perceber pessoas em atitude suspeita, paradas, observando com atenção e interesse os passantes. Isso na região da Central do Brasil. O que quero dizer? Que existiam, no meio da multidão, grupos de pessoas interessadas em cometer crimes, em realizar roubos. Considero, também, a possibilidade de elementos infiltrados no protesto (pelas forças da "ordem") para estimular atos de violência e justificar a atuação violenta da Polícia.
A mídia, agora, parece querer pautar o movimento. Parece buscar, ou melhor, criar lideranças moderadas (e domesticadas?) e associar ao movimento ao combate da corrupção. Esse discurso, a meu ver, está embutido na Reforma Política, é parte dele, é necessário, mas não deve ser a tecla única que querem fazer. Por quê? Por dois motivos: a) Por oferecer risco de alimentar, ainda mais, a aversão à Política e a representação partidária. b) Por oferecer risco de alimentar apetites dos que gostam posar de Super-homens, DEFENSORES DA DEMOCRACIA E DA CORREÇÃO que, para salvaguardá-las, não hesitariam em golpear a democracia. Ao insistirem na tecla da Corrupção, colocando-a como bandeira junto da Redução das Tarifas, tentam esconder as outras bandeiras que se levantaram. É bom que tenhamos olhar crítico para essa mídia tradicional e percebermos suas flutuações. O "puro e simples" combate à corrupção não tem o condão mágico de transferir os recursos que seriam desviados pelo crime para setores como Saúde e Educação. É bom lembrar que a decisão de se investir nestes setores É POLÍTICA, faz parte de concepções políticas, de visões de mundo. Acreditam, porventura, que alguém que seja sócio de redes de Hospitais ou Escolas particulares vai se esforçar para a melhoria da Saúde e Educação Públicas? Algum político cuja campanha seja financiada por estes setores do capital privado faria isso? Penso que não. Parece-me, mesmo, que a intenção de repetir o mantra da "corrupção" oculta, deseja esconder, a politização das outras questões.

4 - Os prefeitos, em ação orquestrada, resolvem anunciar a redução dos valores das passagens na véspera de outras manifestações, com o objetivo claro de as desmobilizar. Agora, em última análise, não haverá redução dos custos. A fonte dos custeio é que deixará de ser direta. A grana não saltará, mais, diretamente, dos nossos bolsos para as mãos dos trocadores. Ela saltará do DINHEIRO PÚBLICO, o somatório dos nossos recursos em impostos, para subsidiar essa diferença. Os prefeitos e governadores estão contando que essa ginástica passe desapercebida pela população. Por que não alterar os lucros das empresas de transportes públicos? Aliás, quem tem acesso a essa caixa preta? Quanto lucram? O que representa a isenção de ISS que a Prefeitura JÁ OFERECE a essas empresas em termos de valores que o Poder Público deixa de arrecadar e que se reflete nas passagens? Noto que a mídia hegemônica NÃO está chamando a atenção para este aspecto. Ao contrário, insiste ainda na ideia de que o Poder Público deve subsidiar a diferença "reduzida", além de oferecer outros e$tímulo$, em termos de reduções de outros impostos (sobre o Diesel, por exemplo) para que as empresas reduzam as tarifas. Vez que outra falam no mistério das planilhas de custo das empresas de ônibus. Não mencionam a possibilidade de redução dos lucros destas.

5 - A violência policial tem (conjugo o verbo no presente de propósito) um claro objetivo: DESMOBILIZAR, pela intimidação. Abusos são cometidos. E quem os fiscaliza? A Corregedoria da Polícia? Então, os iguais se fiscalizam? Existe isenção? Não me parece. Em que medida a violência dos ditos "baderneiros" e "vândalos" não representa a resposta coletiva às violências cotidianas que sofrem e que sofreram, ainda mais intensamente, nestas manifestações? O PM, apesar de ser "povo", não se julga como tal. Está servindo aos senhores que a exploram de maneira canina. Eu não aceito a justificativa de que são inocentes porque estão, apenas, "cumprindo ordens". Ora, quem cumpre ordens espúrias, de violência contra os demais, de duas uma: ou sente prazer em fazer os outros sofrer, ou é um grande imbecil que não pensa pela própria cabeça. 


6 - Os cientistas sociais estão perdidinhos tentando "domesticar" o Movimento, fazendo suas classificações, suas comparações e suas previsões. Onde vai chegar isso? HONESTAMENTE? Não sei. Era necessário? Sem dúvidas! Começam a perceber, agora, a pluralidade do movimento e as forças antagônicas mesmo, em disputa. Notam, sim, que o movimento começou à esquerda; que recebeu outras pessoas, não acostumadas às discussões políticas, muitas delas agregando outras bandeiras; e que recebeu, também, elementos da direita, que tentam "despolitizar" propositalmente, o movimento, buscando reforçar o afastamento dos partidos políticos.

6.1 - À "falsa esquerda" (penso no PT), que está na situação de poder, existe um discurso que tenta deslegitimar as manifestações, alegando que são instrumentos da direita e que visam objetivos golpistas. Sugerem que os manifestantes, em sua totalidade, sejam "inocentes úteis" nas mãos de uma direita maquiavélica. Em outros setores da esquerda (penso no Psol e PSTU), vejo que considera-se essa possibilidade, mas não como algo dado, certeiro. Esta consegue ver o movimento sendo disputado pelos lados do espectro das forças políticas, e que essa disputa NÃO PODE ser abandonada. Acompanho, algumas vezes, "bloqueiros progressitas" que demonstram simpatia pelo PT e essa retórica de que os governos com os quais simpatizam sempre está ameaçado de sofrer golpe já não é nova. Exageram, a meu ver.
Por fim, acredito, sim, que possa haver uma (ultra?) direita que tenha interesses em golpear a democracia e que possa tentar/esteja tentando insinuar-se no movimento, no que os discursos de "sem partidos" ou contra a "corrupção" lhes sirvam muito bem. Penso, também, que existe da parte de setores da direita envergonhada, que não se assume como tal, uma gritaria de má fé que tenta desqualificar a esquerda quando ela denuncia a presença da direita disputando o movimento.
Andei tentando ler algumas porcarias escritas por direitistas envergonhados ou assumidos a respeito do movimento. Lembrando bem por cima, parece-me que tratam o assunto como um plano maquiavélico do PT... Pena que não estou com muito tempo para explorar esse caminho. Se der (tomara que sim!) eu volto ao assunto.
7 - Não acreditem nas estimativas de público da Polícia e aumentem 10 vezes a feita pela imprensa. O Cordão do Bola Preta, no Carnaval, coloca 2 milhões na Av. Rio Branco quando ela fica cheia, de ponta a ponta. Na segunda passada (17/06/2013) ela estava assim e só tinha 100 mil? No dia 20/06, toda a Av. Presidente Vargas estava tomada de pessoas. As  estimativas "oficiais" dão conta de 300 mil pessoas. Eu arrisco mais de 2 milhões.

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