sábado, 8 de agosto de 2009

Eduardo Paes delega à CONQUALI a tarefa de qualificar as pessoas jurídicas de direito privado como Organizações Sociais

O Projeto de Lei n° 02-A/2009, que dispõe sobre a qualificação de entidades como Organizações Sociais, de autoria do Poder Executivo traz, no seu artigo 1°, o seguinte: “O Poder Executivo poderá qualificar como Organizações Sociais as pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura, à saúde e ao esporte, atendidos aos requisitos previstos nesta Lei.”


O Diário Oficial do município do Rio de Janeiro, no dia 24/07/09, publicou o Decreto n° 30.907 de 23/07/09 onde, no seu artigo 1°, temos: “A Comissão de Qualificação de Organizações Sociais – CONQUALI qualificará cada instituição como Organização Social para contratação pelos órgãos da Administração direta e indireta da Prefeitura para apenas uma única área de atuação.”


O Poder Executivo está delegando à CONQUALI (http://www.conquali.com.br/) a atribuição de qualificar as pessoas jurídicas de direito privado como Organizações Sociais. Por que semelhante atitude? Não teria capacidade de realizar semelhante feito? Por que delegar a tarefa à uma empresa de consultoria, auditoria e treinamento? E quem fiscalizará a CONQUALI? Não me recordo, no texto original do PL 02/2009, qualquer referência a possibilidade de transferir, para terceiros, tal responsabilidade? O que pensarão os defensores e entusiastas das O.Ss.?

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Palácio da Cidade ou do Eduardo Paes?

No dia 04/07/09, tive a “iluminada” idéia de escrever no portal Palácio da Cidade, na parte Gabinete Interativo – Você de olho no Rio.  Segue a mensagem: “Avanços de sinal e bandalhas freqüentes na altura do Corpo de Bombeiros de Benfica, às 6hs da manhã e a partir das 20hs. Perigo para todos. Oliveira | 04/07/2009”. Problema resolvido? Negativo! Tudo na mesma.


As mensagens que recebem o “aval” (de quem?) para serem publicadas muitas vezes são elogiosas ao prefeito, reforçando aquela imagem que o portal quer construir de indivíduo de realizações e mentor das transformações. “Prefeito, busca as olimpiadas pra gente.” “Parabens Prefeito. Há muito não se via uma integração nos 3 Governos. Ganha a União, Ganha o Estado, e Ganha o Rio. Este é o nosso CARA! ...” “Prefeito, não se esqueça de combater a poluição visual, que destruiu Copacabana, por exemplo, com letreiros em demasia.” São algumas das muitas encontradas neste espaço. Tentem escrever sobre aspectos negativos e esperem sentados, com muita “paciência”, porque nunca será publicado.


Aliás, neste espaço um primeiro ponto que salta à análise é a centralidade da figura do Prefeito Eduardo Paes. Pode-se dizer que tudo que é veiculado gira em torno de sua imagem, sempre destacada visualmente. Para alguns pode ser normal, sem dúvida nenhuma, uma vez que ele é o representante maior do executivo. Entretanto, o esforço parece muito mais de exaltação de sua imagem enquanto realizador e mentor central do que acontece de “positivo” do que propriamente um canal de comunicação com a população.  Há, na parte inferior da página uma pequena área intitulada “Siga o prefeito”, onde disponibiliza-se seu perfil no orkut, twitter, facebook, myspace e BCYou, onde, supõe-se, a população poderia interagir com ele. Não precisa ser muito ingênuo para se perceber a ficção, ainda que muitos acreditem estar lidando com o indivíduo, como era possível ver a algum tempo atrás, antes de bloquearem a visibilidade para “não amigos”. As pessoas escreviam como se para ele fosse.


Para nós, este portal é uma mal disfarçada campanha permanente deste indivíduo a fim de se promover as custas do cargo que ocupa. Ele apaga a imagem da Prefeitura enquanto instância de representação da população eleitora e coloca-se no lugar, num esforço de tentar fazer com que as pessoas confundam-no com a Prefeitura. Assim, acredito, ele figura como o único capaz de fazer o que foi feito. É bom lembrar que dispõe de amplo apoio do Governo do Estado e da Presidência da República, o que sempre foi exaltado na sua campanha e ainda hoje. Isso significa mais grana para investimentos, sim, mas que ele capitalizará em benefício de sua imagem, que pode se reforçar cada vez mais. É um traço vicioso da política brasileira esse personalismo que se apresenta paternalista.


Ainda temos a questão do custo de se colocar no ar um portal desta natureza. Nestes tempos onde até os salários dos servidores o prefeito quer divulgar, quanto se gastou para fazer o Palácio da Cidade acontecer na internet? Quantas pessoas estão envolvidas na sua manutenção e gerenciamento? Quem são essas pessoas? Quem lhes paga? Qual o critério de seleção das publicações das mensagens enviadas pela população? E onde fica a história do corte de gastos? Uma estrutura de propaganda dos feitos do prefeito é mais importante do que o reajuste salarial dos servidores ou da merenda servida às crianças nas escolas? Em tempos de crise econômica, não se deveria gastar com propagandas, certo prefeito?


Gripe Suína

Ministério da Saúde, Secretarias Municipal e Estadual batendo cabeça por causa da gripe suína. Muitos “protocolos”, demora para se conseguir o medicamento necessário, hospitais lotados onde servidores e pacientes sofrem, os primeiros pela sobrecarga de serviço e os segundos pelo enorme tempo de espera. Existem, em algumas unidades, “tendas” de atendimento, entretanto, como o número de servidores é o mesmo, quando a equipe é dividida para atenderem em duas frentes, os pacientes com casos “comuns” também tem o atendimento comprometido.

Aulas adiadas. Não estaria faltando alguma campanha para estimular as pessoas a saírem menos de suas casas? Não digo para deixarem de ir aos hospitais, como algumas campanhas cínicas de TV estão propondo. Refiro-me à renúncia ao Shopping, ao cinema, ao teatro, enfim, aos ambientes fechados. Não proponho toques de recolher ou interdições de locais, mas acredito que a diminuição do volume de pessoas possa ajudar a disseminar menos o vírus. 

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Algumas Reflexões sobre o Choque de Ordem de Eduardo Paes

Reflexões originalmente postadas na comunidade da Prefeitura do Rio no orkut (http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=189319). 


Título da postagem: "Amanhã o pau vai quebrar" (http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=189319&tid=5360115642098960975&na=1&nst=1)


Nos olhos dos outros...

"Choque de Ordem é refresco..."

Um dia todos os terrenos não tinham "donos", até chegar um e dizer: "Isto é meu!" As vezes isso acontece antes das legislações que desejam regular o uso do território existam.

Choque de Ordem para quem? Com que objetivos?

Cansei de ver, nas ruas e em repartições, truculência e ironia venenosa da parte de servidores para com a população. Acredito que seja possível, então, que tenham usado palavras rudes com algumas pessoas. Quantas? Não sei.


Antonio Gramsci

"Um dos grandes obstáculos à mudança é a reprodução de elementos da ideologia hegemônica por parte das forças dominadas. É tarefa importante e urgente desenvolver interpretações alternativas da realidade."

Antonio Gramsci, citado por David Barsamian, Ambições Imperiais, Ediouro, 2006), p. 63.

Sobre Gramsci: http://pt.wikipedia.org/wiki/Antonio_Gramsci


Não acompanhei a entrevista em questão. Apesar disso, baseado nas constantes atitudes do atual executivo, podemos sim, nos posicionar a respeito do tal Choque de Ordem. Por que atacar a imagem da atriz, desqualificando suas atitudes? Alguém já disse que a calúnia é a arma dos covardes, geralmente utilizada quando faltam os argumentos. Considerando a HIPÓTESE dela estar exagerando os fatos, invalida sua crítica à truculência a essas atitudes? Essa maneira de agir, assumida pela Prefeitura é legítima?

Se a desapropriação for "legal", ela se torna "moral"? Quem faz as leis? Para quem são feitas? A quem beneficia? As leis são "naturais", por acaso? Dão em árvores e caem expontaneamente depois de maduras na nossa cabeça, ou são resultado de disputas de interesses? As leis que ficam são dos "vitoriosos" do momento... A Prefeitura é zelosa fiel da lei sob todos os aspectos ou somente naqueles que lhe interessam mais diretamente?

Não ví os questionamentos do "Luto - João" (sobre o choque de ordem) serem analisados. A parcialidade da Prefeitura, nos pontos observados pelo João, está escorada em qual legislação ou decreto? Por que a gente escolhe legitimar um aspecto e deixa de lado o outro? Estamos neutros nessa questão?


Obs.: Seguem, abaixo, os questionamentos do usuário "Luto-João":

"

Estrada do Joá e Nyemayer

Pq não há choque de ordem na estrada do Joá, na Nyemayer e nas mansões irregulares no alto da boa vista?

Porque não há choque de ordens nas pastelarias da mafia asiatica e nas suas lojas ilegais no centro da cidade???

Pq não se realiza choque de ordens nas seguintes cracolândias, mas com recolhimento dos menores e envio deles para os abrigos do Centro de Tramento do Estado.

1 - Central do Brasil
2 - Rua Regente Feijó
3 - Campo da GE em Del Castilho.
4 - Rua Leopoldo
5 - Praça da Rua Petrocochina - Vila Isabel
6 - Praça de Skate do Metro da Cidade Nova - Estacio (em baixo da Janela do Prefeito)
7 - Ao Lado da Igreja São Joaquim - Estacio
8 - Rua Lauro Araujo - Cidade Nova
9 - Rua de acesso ao morro do são carlos
10 - Na Citizo - Rio Comprido


Outra sugestão seria o choque de ordem Nos seguintes condominios com puxadinhos em ÁREA de PRESERVAÇÃO AMBIENTAL

1 - BOSQUE DO CONDOMINIO PENISULA E ACESSO VIA DECK A LAGOA.
2- PAVIMENTAÇÃO DE AREA DE PRESERVAÇÃO NO CONDOMINIO PEDRA DE ITAUNA
3 - INVASAO DE MANSÕES NA FLORESTA DA TIJUCA NO ENTORNO DO HOSPITAL CARDOSO FONTES E NA MARGEM CONTRÁRIA DA GRAJAU-JACAREPAGUA JUNTO A ELEVATÓRIA DA CEDAE...18 CONDMINIOS DE CLASSE MEDIA ALTA, COM MAIS DE 300 CASAS FLORESTA A DENTRO.


AOS POUCOS IREI POSTANDO MAIS SUGESTÕES....."


Penso que uma das grandes questões dessa atuação do Choque de Ordem é a parcialidade com que ele tem sido exercido.

Tenho dificuldades com locais com muitos vendedores ambulantes, com trânsito desorganizado, crescimento desordenado, etc... Entretanto, longe de se questionar, porque mais difícil, o por quê da existência de vendedores ambulantes, de crescimento urbano desorganizado, de menores de rua viciados, a opção da atual gestão tem sido a da terra arrasada, ou seja, "limpar"... varrendo para baixo do tapete. E sabe por quê? Algumas causas são maiores, estruturais, dizem respeito a um modelo de sociedade excludente que, com essas ações, longe de se solucionarem, reforçam esta sociedade excludente. O camelô existe, a criança de rua, o crescimento da favela. Vamos lembrar que são pessoas, seres humanos, com sentimentos, anseios e receios. Devemos humanizar o tratamento aos seres humanos, do contrário, teremos uma realidade sempre excludente com nossa conivência.

Sobre as questões de trânsito, que não entendo bem, acredito que em certos aspectos uma legislação mais "dura" que a atual, além de fiscalização não-parcial pode ser um caminho, não esquecendo de ampliar o debate para a sociedade como um todo para que esta se posicione. Gostaria de ouvir, se fosse gestor nesta área, a opinião de quem perdeu parentes no trânsito, de quem depende do trânsito para sobreviver e de um mal motorista.

No que toca a Lei Seca, sou de opinião que a bebida é uma droga. Não sou viciado nela. É uma droga lícita, atualmente. Longe de reprimir da maneira como é feito, acredito que campanhas em escolas, hospitais, além de fazerem algo parecido com o que foi feito com o cigarro (restrição na propaganda), pode ajudar nesta questão.

Acredito que incomoda muito o Marcio, como a mim e a outros, é a maneira "espetaculosa" com que essas ações de "Choque de Ordem" são conduzidas e aparelhadas pelo prefeito, que se esforça por estar sempre na mídia. Enquanto isso, outras questões ficam fora do debate. Cadê nosso aumento, por exemplo?


A todos

Uma matéria no jornal O Dia, on line, de hoje - 30/07/09.

"Leitores reclamam de vista grossa de autoridades para coibir limpadores de sinal"

http://odia.terra.com.br/portal/conexaoleitor/html/2009/7/leitores_reclamam_de_vista_grossa_de_autoridades_para_coibir_limpadores_de_sinal_26609.html

Reparem, por favor, nos termos que foram utilizados pelos leitores ao se referirem aos limpadores que ficam em sinais. Um dos locais citados eu conheço de perto. Darei meu relato sobre ele depois.

"Bando", "vagabundos", "bandidos" são os termos utilizados.

Não notei, na matéria, ninguém questionando o por quê daquelas pessoas alí. O que levaria uma pessoa a passar o dia na rua tentando limpar vidros de carros para conseguir alguma grana. Não haveria nenhuma causa social para o problema? Isso não diz respeito ao tipo de sociedade que temos, escolhemos e alimentamos? Seriam todos eles parte de um "bando de bandidos vagabundos"?

Abusos acontecem? Sem dúvidas, não sou ingênuo para negá-los. Muitos roubam, aproveitando sinais fechados. as vezes chegam até de moto ou de carro mesmo. Não estimulo e muito menos defendo a criminalidade. Os que cometem crimes desta natureza devem responder por isso.

Um certo "Choque de Ordem" que escondam esses limpadores de suas vistas é o que parece que desejam estes leitores, ao invés de se buscar entender a questão para solucioná-la. Mas... e retirando-os, o que acontece depois? Voltam, ou estes, ou outros. Não é o que estamos vendo? Se as causas não são atacadas, o problema persiste. O atual executivo da cidade se vale disso, deste apoio que recebe (com opiniões desta natureza) e cria suas ações espetaculosas, que caem na mídia e lhe dão o esperado retorno em visibilidade.



 

domingo, 12 de abril de 2009

Senhor (a) Vereador (a) da Cidade do Rio de Janeiro

Senhor (a) Vereador (a) da Cidade do Rio de Janeiro.

Na condição de Servidor Público Municipal e, principalmente, na de cidadão, manifesto meu repúdio ao Projeto de Lei - PL 02/2009, o segundo do atual Poder Executivo, pelas razões que passo a expor.

Salta aos olhos, em semelhante projeto, a manifesta declaração de incompetência do Executivo na gestão e operacionalização dos serviços públicos essenciais à população, quando este entrega, sem qualquer critério, a administração de Instituições Públicas para ONGs e/ou empresas. Aliás, não diria que será sem critério. Este será, eminentemente, político. Acomodarão os aliados que possuem, muitas vezes, Centros Sociais que funcionam como pólos de atração para votos nas eleições. Afinal de contas, conforme a Seção III, do Contrato de Gestão, art. 5°, par. 2°, a celebração dos contratos (com as Organizações Sociais) se dará “com dispensa da realização de licitação”. Terão, ainda, recursos orçamentários e bens públicos caso se façam “necessários” para o cumprimento do contrato de gestão. Percebam a abertura que se oferece a essas instituições, nem sempre muito claras em seus propósitos, lidando com recursos humanos (servidores sob o comando dessas ONGs), prédio e recursos.

Vale recordar que, com o prefeito César Maia, as Creches foram administradas por cooperativas e ONGs, num modelo parecido com esse que Paes quer aplicar. Por causa da péssima situação dessas creches, desde 2003 a Prefeitura retomou a administração de parte delas, além de ter realizado concursos públicos para o setor. E fica a pergunta: o que as ONGs faziam com o dinheiro que recebiam para administrar as creches? Infelizmente, parece que é este o modelo de administração que a prefeitura Paes quer implantar em escolas, hospitais e em outros setores.

Podemos entender também que estão considerando os servidores públicos, concursados, incompetentes para a administração destas unidades, uma vez que, atualmente, são estes que conduzem a rotina de Hospitais, Escolas, Creches e Postos de Saúde. Talvez não seja por acaso que recentes atitudes do Executivo dêem conta de um posicionamento que não vê com bons olhos os servidores, com a retirada de benefícios e conquistas que demoraram anos para se concretizarem, pretextando que estas trariam prejuízos à administração pública, bem como à Previdência destes. A retórica do prejuízo é repetida inúmeras vezes sem qualquer fundamentação que a ateste. Não provam o que dizem.

Outro aspecto digno de nota é a gestão de pessoas, dos servidores municipais comandados por essas instituições. Consigo imaginar que eventualmente, esses servidores pela sua condição, podem sofrer perseguições administrativas, que se traduzirão em punições com o objetivo, em última análise, de gerar provas para processos administrativos que podem ameaçar a estabilidade que possuem. Menos grave que a estabilidade ameaçada, mas ainda muito problemático, será que estes servidores dificilmente galgarão os postos de comando interno das unidades (chefias), sendo relegados às tarefas mais distantes da órbita de comando, sem a chance de demonstrarem o potencial que possuem comprovadamente, porque concursados.

Assim, diante do exposto, venho, por meio desta, solicitar que este mal intencionado Projeto de Lei - PL 02/2009 que privatiza a administração pública seja derrubado, para que o Executivo, sob os olhares da população desta Cidade, dos seus servidores públicos e dos representantes do Legislativo (que estão igualmente sendo observados nas escolhas, posicionamentos e atitudes políticas) cumpra com suas tarefas, ao invés de delega-las à ONGs ou qualquer instituição semelhante.

Rio de Janeiro, 09 de Abril de 2009.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Que é ter vergonha na cara?




Benjamin Franklin (1706-1790) foi editor, refinado intelectual, escritor, pensador, naturalista, inventor, educador e político. Propunha como projeto de vida um pragmatismo eclarecido, assentado sobre o trabalho, a ordem e a vida simples e parcimoniosa. Foi um dos pais fundadores da pátria norte-americana e participante decisivo na elaboração Constituição de 1776. Neste mesmo ano, foi enviado à França como embaixador. Frequentava os salões e era celebrado como sábio a ponto de o próprio Voltaire, velhinho de 84 anos, ir ao seu encontro na Academia Real. Certa tarde, encontrava-se no Café Procope em Saint-Germain-des-Près, quando irrompeu salão adentro um jovem advogado e revolucionário Georges Danton dizendo em voz alta para todos ouvirem:"O mundo não é senão injustiça e miséria. Onde estão as sancões?" E dirigindo-se a Franklin perguntou provocativamente:"Senhor Franklin, por detrás da Declaração de Independência norte-americana, não há justiça, nem uma força militar que imponha respeito". Franklin serenamente contestou: "Engano senhor Danton. Atrás da Declaração há um inestimável e perene poder: o poder da vergonha na cara (the power of shame)".




É a vergonha na cara que reprime os impulsos para a violação das leis e que freia a vontade de corrupção. Já para Aristóteles a vergonha e o rubor são indícios inequívocos da presença do sentimento ético. Quando faltam, tudo é possível. Foi a vergonha pública que obrigou Nixon renunciar à presidência. De tempos em tempos, vemos ministros e grandes executivos tendo que pedir imediata demissão por atos desavergonhados. No Japão chegam a suicidar-se por não aguentarem a vergonha pública. Ter vergonha na cara representa um limite intransponível. Violado, a sociedade despreza seu violador, pois não se pode conviver sem brio.




Que é ter vergonha na cara? O dicionário Aurelio assim define:"ter sentimento da própria dignidade; ter brio." É o que mais nos falta na política, nos portadores de poder público, em deputados, senadores, executivos e em outros tantos ladrões e corruptos de colarinho branco. Com a maior cara de pau e sem vergonhice negam crimes manifestos, mentem sem escrúpulos nos interrogatórios e mas entrevistas aos meios de comunicação. São pessoas que à força de fazer o ilícito e de se sentir impumes perderam qualquer senso da própria dignidade. Roubar do erário público, assaltar verbas destinadas até para a merenda escolar ou falsificar remédios não produz vergonha na cara. Crime é a bobeira de quem deixa sinais ou permite que seja pego com a boca na botija. Nem se importam, pois sabem que serão impunes, basta-lhes pagar bons advogados e fazer recursos sobre recursos até expirar o prazo. Parte da justiça foi montada para facilitar estes recursos e favorecer os sem vergonha com poder.




No transfundo de tudo está uma cultura que sempre negou dignidade aos índios, aos negros e aos pobres. Roubo-lhes seu valor ético porque a maioria guarda vergonha na cara e tem um mínimo de brio. Como me dizia um "catador de lixo" com o qual trabalhei cerca de 20 anos: "o que mais me dói é que tenho que perder a vergonha na cara e me sujeitar a viver do lixo. Mas não sou "catador", sou trabalhador que com o meu trabalho digno consigo alimentar minha família". Se nossos políticos desavergonhados tivessem a vergonha desse trabalhador, digna e dignificante seria a política de nosso pais.




Leonardo Boff




terça-feira, 24 de julho de 2007

Concursados Celetistas

Aproveitando-se da alucinação coletiva gerada pelos jogos Pan Americanos realizados aqui no rio de Janeiro, nossos ilustres representantes resolveram atacar a estabilidade dos servidores e, ao mesmo tempo, acopmodar seus afilhados, prática usual na política brasileira de venda de cargos em troca de apoio para governabilidade.
Projeto de Lei enviado ao Congresso (noticiado pelos jornais por volta do dia 14/07/07, ironicamente próximo ao aniversário da Revolução Francesa) propõe a contratação de servidores públicos pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) e a criação de Fundações Estatais (pensa-se particularmente na saúde, mas se estenderá a outras áreas). O projeto é problemático, preocupante para os cidadãos brasileiros que observam a dilapidação dos seus direitos.
O primeiro aspecto que chamamos a atenção é o peso de responsabilidade que se coloca nos ombros dos servidores públicos com semelhante medida, peso este transferido dos políticos, isso mesmo, dos políticos, que formulam as leis e exercem o comando de cargos executivos importantes. O caos do serviço público, a ineficiência dele passa a ser responsabilidade única e exclusiva do servidor. Este é criminalizado pelo fracasso das instituições públicas. Na sua esfera de realização, geralmente a extremidade do serviço ( o atendimento direto à população) sofre com os desmandos e desatinos cometidos pelos vampiros que assumem cargos de responsabilidade seja em Ministérios, em Secretarias ou qualuqer outro departamento, cargos esses de indicação política, é bom frisar. Um servidor que trabalhe num hospital ou qualquer outro local não tem culpa se falta papel para a realização de atividades básicas, ao mesmo tempo que sua instituição está sendo informatizada.
Não nego que hajam maus servidores. Em todas as esferas onde se encontrem seres humanos haverão aqueles que se comprometem com a causa e outros totalmente descompromissados. A lei atual (não entendo muito bem, mas arrisco dizer) tem dispositivos para enquadrar e/ou punir, quando for o caso o mal funcionário. Toda chefia pode cortar o ponto do funcionário faltoso ou anotar seu atraso, basta querer. A eventual "operação tartaruga" (realizar as tarefas num ritmo menor que o normal) é facilmente detectada e pode ser sanada com uma transferência de setor, por exemplo (devem haver outras formas, não conhecidas por mim de lidar com esses problemas, afinal, não sou administrador).
O segundo ponto que passa em meio a uma nuvem gerada pela discussão em torno da CLT é o fato de que essas fundações poderão contratar um profissional renomado para trabalhar sem concurso público, um grande médico por exemplo. É evidente que temos aqui o esforço de acomodação dos afilhados políticos, mencionados anteriormente. Os políticos, de forma parecida com os reis de antigamente, oferecem cargos em troca de apoio. Mas não ficamossó por aqui. Poderão fazer compra de materiais sem Licitação, isso mesmo, sem Licitação! Se do jeito que é já sabemos de histórias e mais histórias sobre fraudes em preços e pagamentos, o que se dirá agora, com a rédea solta. Um lindo esforço desses políticos de agradarem seus financiadores de campanhas, seus patrões de verdade, já que devendem, trabalham e legislam em interesse destes.
Quero lembrar a fala de um grande amigo e irmão que numa roda de conversa à respeito do assunto, lembrou que a estabilidade do servidor serve para preservá-lo de perseguições políticas dentro da instituição em que se encontra, pois sabemos que os cargos comissionados são indicações políticas (o clubinho dos eleitos, amigos dos amigos, parentes, etc...). Sem isso, esse servidor que já não tem estabilidade terá que ser marionete nas mãos de seus superiores e dificilmente terá possibilidades de questionar algo de errado que aconteça, pois isso desagrada demais a quem manda. Se o fizer, poderá ser massacrado no serviço e com isso, não aguentar a pressão e ceder, demitir-se ou ser demitido.
Um último ponto. Estão confundindo quantidade com qualidade. O Projeto prevê estabelecimento de metas de desempenho e qualidade para todos. Eu não sei como a qualidade se fará presente num lugar que pode faltar material, impossibilitando o desempenho correto de suas atividades. E fico pensando nessas metas também. Acredito que acontecerá que esses hospitais que pretendem transformar em Fundações vão passar a diminuir a taxa de permanência dos pacinetes em função de bater metas. Se hoje já são mandados pacientes para a casa sem estarem em condições plenas, imagine quando isso vigorar. É a lógica de mercado impondo seu ritmo numa coisa que devia passar longe dela. Uso um exemplo pessoal: fui operado de uma hérnia inguinal num hospital particular em 2004, no mês de dezembro. Fiquei um dia no hospital! Fui para casa no dia seguinte à cirurgia cheio de dores que demoraram pelo menos uma semana para passarem. Observando outros casos, em hospitais públicos e notei que eles ficaram mais tempo que eu, se recuperaram melhor e tiveram sua alta hospitalar menos traumática que a minha. Eu tinha 24 anos na época e fiz uma cirurgia simples. Peço que vocês a partir desta, imaginem as situações que ocorrerão se essa lógica for em frente e efetivada.
O serviço público vem sendo privatizado bem embaixo dos nossos narizes, com prejuízos para a população e para os servidores. A lógica do capital favorece a quem tem mais, somente a eles e aos seus, a mais ninguém.