sábado, 25 de agosto de 2012

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Saúde Pública na cidade do Rio de Janeiro durante o mandato de Eduardo Paes



         Diante da leitura de algumas opiniões de colegas da Prefeitura quanto à Política de Saúde do atual Executivo, senti-me na necessidade de contribuir no debate por algumas razões. A primeira razão, e fundamental, é a de minha condição de cidadão com parentes e vários amigos usuários do SUS. A condição de alguém que já passou por dificuldades no tratamento de pessoas próximas da família, em função dos “tempos de longa duração” de algumas esperas; de alguém que presenciou, no tratamento de seus familiares, notas de descaso e indiferença por parte de Servidores Públicos no exercício de suas funções. A segunda razão por ser Servidor da SMSDC há quase dez anos e ter desenvolvido, à semelhança de outros profissionais de diferentes secretarias, doença relacionada à prática do serviço, pela dedicação, pela entrega com que me envolvi, logo no início de minha carreira no Serviço Público. Dedicação, entrega e qualidade na prática (às favas a modéstia) que mantenho por questões de princípios, aprendidos em casa e mesmo no Serviço Público através de Chefias comprometidas.
        As opiniões, às vezes, manifestam-se impregnadas de paixões. Todos nós, sem exceção, estamos falando, neste debate (e em outros), a partir das lentes com as quais enxergamos o mundo. Lentes que eu nomino por “Ideologias”. Não há, a meu ver, uma análise puramente “técnica”, no sentido que alguns “especialistas” gostariam de emprestar ao termo. A escolha da Política Pública de Saúde, como outra qualquer, passa pela nossa opção ideológica. Então, é justo e necessário, para os fundamentos da discussão, deixarmos claro o lugar de onde falamos. É uma questão de honestidade intelectual. O discurso de isenção não é isento. Quem lança mão de semelhante artifício tenta escamotear seu lugar social e sua visão de mundo. Não sou dos que acreditam na “morte das ideologias”. Aliás, considero um discurso dessa natureza fortemente ideologizado.
        Isto posto, divido minha análise em alguns momentos. O primeiro deles consiste na exposição de títulos e matérias de jornais, dos últimos 2 anos, que colocam em questão a presumida qualidade da Saúde Pública na cidade do Rio de Janeiro, defendida por alguns colegas Servidores.
        No segundo, e breve momento, trago meu relato enquanto parente de usuário do SUS, bem como o de pessoas conhecidas, relatos advindos de conversas recentes e notas escritas rapidamente.
        No terceiro momento trago algumas de minhas experiências pessoais enquanto Servidor, bem como aquelas de colegas de trabalho, atuais ou não, a respeito de outros aspectos, de outros ângulos do serviço.
Quero assinalar, desde já, que procuro, na medida de minhas capacidades, conviver com o dissenso da maneira mais harmoniosa possível. Reconheço que estou construindo-me neste processo. Já evite, e muito, há alguns anos atrás, participar de fóruns de discussões na internet ou mesmo na vida cotidiana, por receio de me aborrecer com posturas agressivas dos “opositores de momento”, bem como pelo medo de me constituir ofensor, pela má escolha de palavras nas exposições. Desde já, desculpo-me pela contundência ou ironia que use, reforçando que pretendo discutir ideias, pontos de vista, posicionamentos políticos que geram Políticas Públicas e não qualquer pessoa que tenha ponto de vista diverso do meu.

1 – Noticiário sobre a Saúde Pública na cidade do Rio de Janeiro:

1.1 – “Prejuízos de milhões de reais em contratos na saúde do Rio”.
“O Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro (TCM) identificou prejuízos de milhões de reais em contratos firmados com empresas terceirizadas, em postos de saúde e clínicas da família da prefeitura.”

2.1 – “Faltam médicos nos postos, clínicas e hospitais do Rio de Janeiro”.
“Marcar consulta e ser atendido por um médico nos postos de saúde e nas clínicas de família da rede municipal do Rio pode ser uma tarefa árdua. Nos postos, faltam profissionais especializados, como pediatras, ginecologistas e clínicos gerais. Nas clínicas de família, muitas vezes, os doentes encontram apenas enfermeiros. Além disso, são obrigados a esperar até um mês por uma única consulta e, mesmo já internados, precisam aguardar uma chance para chegar ao centro cirúrgico dos hospitais, como constatou O GLOBO nos últimos três dias.”

3.1 – “TCM vê sinais de fraude em contratos de UPAs”.
“O Tribunal de Contas do Município (TCM) encontrou indícios de fraudes em contratos do Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas) com a prefeitura do Rio, para administrar cinco Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Segundo denúncia publicada na edição deste fim de semana da revista "Veja", a organização social (OS) recebeu do município mais de R$ 2 milhões para pagar serviços que não eram previstos em contrato, além de ter anexado cópias de notas fiscais repetidas nas prestações de contas. Num dos casos, a mesma nota de R$ 58.233, referente a exames de raios X, foi cobrada três vezes entre os meses de outubro de 2010 e março de 2011.”

4.1 – “Mortes sob suspeita no Hospital Salgado Filho”.
“No dossiê entregue à promotoria consta que 88,16% das infecções hospitalares no CTI do Salgado Filho foram por pneumonia associada à ventilação mecânica. Além de confirmar ao GLOBO que os compressores de ar comprimido estavam, em agosto de 2010, em ambiente com riscos de contaminação, o professor da Uerj escreveu no laudo anexado ao inquérito que encontrou "diversas irregularidades quanto ao estado e uso dos equipamentos", "aparelhos em péssimas condições" e que sugeriu "a substituição dos aparelhos com defeito por outros de maior precisão, pois estamos lidando com vidas".”

5.1 – “Superlotação e desrespeito com pacientes gera caos em hospitais do Rio de Janeiro”.
“Não é de hoje que a saúde pública do município tem problemas. A denúncia veio do sindicato dos médicos que, nos últimos três meses, registrou em imagens a situação em dois grandes hospitais da cidade.”

6.1 – “Hospital Lourenço Jorge acaba de perder cirurgiões vasculares. Unidade já não tinha especialistas em tórax e cérebro”.
“— Estou cansado de ver pessoas morrendo e ficando sequeladas por motivos totalmente evitáveis — desabafa um médico do Lourenço Jorge, que prefere não se identificar.”

7.1 – “Rio anuncia epidemia de dengue”.
“A Secretaria municipal de Saúde anunciou, na tarde desta terça-feira (24), que o Rio registra epidemia de dengue. Isso significa que a cidade entrou num estágio em que há mais de 300 casos da doença por cada grupo de 100 mil habitantes e esse número é crescente. Do dia 1º de janeiro até 21 de abril de 2012, foram registrados 50.016 casos e 12 mortes pela doença na cidade.”

7.1.2 – “Prefeitura registra quase 76 mil casos de dengue no Rio de Janeiro em 2011”.
O novo boletim sobre a dengue divulgado nesta terça-feira (27) pela Prefeitura do Rio, informa que, até o dia 24 dezembro, foram notificados 75.936 casos no município.  Destes, 86 casos ocorreram entre 17 a 24 deste mês. O número de óbitos chega a 51 este ano.”

8.1 – “Jorge Darze: O avesso da saúde”.
“A pesquisa IDSUS, feita pelo Ministério da Saúde em todos os municípios brasileiros, mostrou o avesso da saúde, revelando um quadro devastador sobre o SUS. Apenas 347 municípios (6,2%) oferecem bom atendimento aos pacientes, e o Rio de Janeiro ficou com a pior colocação entre as capitais. De 0 a 10, a cidade recebeu 4,33, ficando abaixo inclusive da média nacional. O prefeito contestou a pesquisa, alegando que as informações colhidas são anteriores à sua gestão, iniciada em 2009, mas o IDSUS alcançou metade do seu governo, já que analisou dados de 2008 a 2010.”

9.1 – “Hospital da Piedade suspende internações no setor de pediatria”.
“O Serviço de Pediatria do Hospital municipal da Piedade decidiu suspender as internações por tempo indeterminado até que a unidade contrate mais pediatras. Em documento enviado à direção do hospital, a chefe do setor, Beatriz Araújo da Costa Soffe, justifica a medida expondo o déficit de profissionais: “Somos 12 pediatras (quatro têm duas matrículas) para cobertura da rotina, plantões e ambulatório de pediatria geral e especialidades”. Seriam necessários mais quatro profissionais”.”

10.1 – “Os absurdos da política de recursos humanos da SMS/RJ. O objetivo é atrair médicos e corrigir o déficit das Clínicas de Família. Enquanto isso, paga salários aviltantes aos concursados.”
Trata-se de um anúncio onde se oferecem vagas para Residencia em Medicina da Família e Comunidade com salário de R$: 7.000,00.

11.1 – “Tomógrafos do Souza Aguiar e do Salgado Filho estão parados”.
“Enquanto os pacientes sofrem com a falta de tomógrafos, nos hospitais municipais Souza Aguiar e Salgado Filho os aparelhos estão parados à espera de manutenção. Nas duas unidades e no Miguel Couto há também equipamentos novos, comprados há cerca de um ano, que estão encaixotados. As informações foram confirmadas ontem pela Secretaria municipal de Saúde. (...)A Secretaria municipal de Saúde não informou quantos tomógrafos existem atualmente em funcionamento nas unidades de sua rede.”

12.1 – “Sindicato denuncia radiação em hospital do Rio; governo nega”.
“O Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro denunciou o vazamento de radioatividade em um tomógrafo no Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, na Zona Norte do Rio. A Secretaria municipal de Saúde, no entanto, afirma ter feito testes na sala de tomografia da unidade, que revelaram que as taxas de radiação estavam dentro da normalidade. Apesar disso, nesta quarta-feira (25), o aparelho está desligado, segundo a secretaria.”

13 – “Paes sobre Saúde no Rio: 'A coisa não está boa, não'”.
“O prefeito do Rio e candidato à reeleição, Eduardo Paes (PMDB), admitiu ontem pela manhã que a saúde pública no município vai mal. (...)“Sei que ainda há muita coisa a fazer. A coisa não está boa, não. A intenção é chegar em 2016 com 70% da população atendida pelas clínicas da família, para desafogar os hospitais. Hoje, este número é de apenas 37%”, reconheceu Paes, após participar de sabatina no Rio, organizada por representantes da rede privada de saúde.”


2 – Breves relatos de usuários:

2.1 – Uma amiga, moradora de Senador Camará, narrou-me que certa feita seu filho ardia em febre e precisou de atendimento médico. Ela procurou uma Clínica da Família próxima de sua casa. Não foi atendida, por conta da questão da regionalização do serviço (o que é razoável). Partiu para uma UPA (não sei se do Município ou do Estado), também não conseguiu. Conseguiu no terceiro lugar que foi, num Posto de Saúde. Essa mesma amiga relatou que precisava de Ginecologista. Passou, segundo ela, pelo Posto Waldyr Franco, em Bangú, pelo PS Alexandre Flemming, pelo Posto da Av. 13 de Maio, no Centro e até na Policlínica Piquet Carneiro. Não conseguiu. Foi conseguir atendimento em Belford Roxo, através do contato de uma amiga. Desta conversa sobre “Ginecologia”, uma outra amiga ouvia e disse: “Gineco acabou. Parece que só tem para mulher grávida.”. Disse isso porque encontrou dificuldades de encontrar atendimento quando perdeu um filho que nem sabia que esperava, com um mês de gestação. Aliás, a experiência ocorreu com as duas.
2.2 – Um pipoqueiro da minha rua teve atendimento na unidade em que trabalho. Recomendaram-lhe uma ressonância magnética dos joelhos. Ele teve a primeira consulta em Maio de 2011. Foi fazer o exame em Fevereiro de 2012. Encaminharam-no para outra unidade, via Sisreg, porque necessitava operar. Ao que me parece, desistiu do atendimento. Cansou de esperar.

3 – Breves relatos de servidores e funcionários:

3.1 - Conversando com uma amiga que trabalha agendando consultas e exames no Sisreg indaguei quais especialidades clínicas ela encaminhava. Respondeu-me que Fisioterapia, Cirurgia Geral com CTI (e outras especialidades cirúrgicas com CTI também), Bariátrica, Nutrição, Cardiologia. Os exames mais solicitados seriam: Ressonância magnética, Eletroneuromiografia (que não estaria sendo feita pelo SUS), Ecografia, Ultrassonografia e Densitometria Óssea.
Segundo essa pessoa, as consultas para Fisioterapia estariam demorando, às vezes, um ano para serem liberadas para os pacientes. As demais especialidades, em no máximo seis meses.
Ressonância magnética poderia demorar até oito meses (as vezes menos) e Ultrassonografia até um ano.
Recordo-me de relatos, antigos (2003 – 2006), de pessoas que trabalhavam com isso que ficavam sem graça quando ligavam para a residência do paciente para informar a marcação de um exame e deparavam-se com a notícia de que o mesmo falecera.

3.2 – Em Novembro de 2010 a minha unidade viveu a experiência descrita pelo amigo Anderson, da falta de capas de prontuários. O problema arrastou-se por longos 6 meses. Quais os efeitos práticos para o trabalho? As mãos dos Servidores feriam-se no manuseio, por causa dos grampos, a busca por prontuários atrasava porque eram colocados, a princípio (quando se tinha expectativa de que o problema não persistisse por tanto tempo) em dois lugares diferentes (os que estavam normais no Arquivo normal e os sem capa em macas). Além disso, as folhas dos prontuários danificavam-se muito mais rápido com o manuseio. Sobre prontuários, recordo-me de uma notícia no jornal O Dia, Diário (Extra)Oficial da administração de Eduardo Paes, onde o Secretário de Saúde Hans Dohmman falava que seria implementado na Rede Municipal de Saúde o Prontuário Eletrônico. A matéria é de 5 de Fevereiro de 2011. Até agora, nada. Eis: http://twitpic.com/8fl3ud

3.3 – Relato de um filho de uma servidora, retirado do grupo SERVIDORES MUNICIPAIS, do Facebook, em 23 de Agosto de 2012. “minha mae trabalha em uma clinica da familia.  hj ela contou que ha 3 meses disseram para tds q o ministerio da saude ia fazer uma visita a clinica. Td mundo esperando e chega uma equipe de filmagem dstribuindo contrato de imagem dizendo q iam registrar a clinica para um livro. minha mae leu e surpresa: iam tirar fotos d td e d tds pra campanha do Paes. Sem deixar claro para os participantes.  Minha mae se recusou, a noticia se espalhou pelo hospital, uma boa galera nao qis assinar e minha mae ainda sofreu represaria da chefia dps.”
Tenho o print do relato.

3.4 – Conversando com uma Assistente Social, ela relatou-me que uma acompanhante de paciente (acho que mãe) reclamou com ela que a unidade não tinha poltronas para acomodar os acompanhantes. Disse que havia dessas nas UPAs que ela buscava atendimento. Estranhou que, ambas unidades sendo da Prefeitura, uma tivesse e a outra não.

4 – Conclusões:

De acordo com o noticiário e os relatos, temos como problemas:

1 – Má utilização de recursos públicos e fraudes pelas Organizações Sociais, gerando prejuízos para os cofres da Prefeitura;
2 – Falta de médicos e profissionais de saúde. Discrepância salarial entre estatutários (desvalorizados) e contratados;
3 – Problemas na manutenção de equipamentos. Falta de insumos básicos para o trabalho;
4 – Superlotação;
5 – Epidemia de Dengue;
6 – Demora no agendamento de consultas e exames pelo Sisreg;
7 – Relato de possível uso político da imagem de Servidores para propaganda político-partidária do atual prefeito Eduardo Paes.

Acredito, por fim,
1 - que se o Executivo Municipal, atual ou os anteriores, tivessem ouvido, efetivamente, os Servidores que estão “nas pontas”, nas extremidades dos braços da administração pública, o cenário poderia ser diferente. Em outras palavras: a Política Pública de Saúde deve ser discutida com os Servidores nela inseridos.
2 – que é fundamental discutir/participar a sociedade das Políticas de Saúde;
3 – que é fundamental o Serviço Público realizado por Servidores concursados e valorizados, efetivamente, através de um Plano de Cargos, Carreiras e Salários e não 14º ou 15º salários com critérios problemáticos de avaliação.


Problemas no sistema de refrigeração do Hospital Municipal Jesus - Janeiro 2013.








sábado, 11 de agosto de 2012

O “Sufoco” dos peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas




            Com o título “Os pescadores aéreos da Lagoa”, Fernando Molica, do Jornal O Dia, na página 8 da edição de 11 de Agosto de 2012 começa afirmando que a Lagoa Rodrigo de Freitas estaria menos poluída e mais viva. Baseia-se, para semelhante afirmativa, na presença de “técnicos voadores”, os tesourões. Assinalou que, já há alguns dias exemplares desta espécie passam o dia sobrevoando o espelho d’água para “pescarem” suas refeições.
            Pois bem! Estive, hoje (no mesmo dia da matéria) dando uma volta no Jardim Botânico. Resolvi dar uma esticada na Lagoa Rodrigo de Freitas, para comer um cachorro quente e apreciar o visual. No Parque dos Patins, enquanto andava, reparei a enorme quantidade de pássaros fazendo exatamente o que o Fernando Molica descreveu. Num determinando momento, senti cheiro de podre. Olhei para o meio da Lagoa, mas não vi nada. Fiquei intrigado, olhando a enorme quantidade de pássaros ali e tentando entender a massiva presença deles. Quando estou voltando, caminhando pelas margens da Lagoa, onde tem aquele heliporto, olhei para baixo, para o espelho d’água e, na margem, notei boa quantidade de peixes mortos. A cabeça deu o “clik”. Os pássaros sobrevoavam a Lagoa porque, provavelmente, a água está pouco oxigenada e quente, o bastante para fazer com que os peixes, para respirarem, tenham que subir à superfície, tornando-se presas fáceis dos pássaros que querem mais é se alimentar...
            Penso, dessa forma, que neste caso, a presença de pássaros não é indicador de limpeza da Lagoa Rodrigo de Freitas. Mas entendo a visão otimista do articulista, uma vez que escreve para um jornal que exagera na generosidade às “jestões” de Eduardo Paes, na Prefeitura do Rio de Janeiro, e de Sérgio Cabral, no Governo do Estado, ambos do PMDB, partido que há longos anos vem poluindo o cenário político do Estado do Rio de Janeiro.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Crack, é possível vencer... Em todos os bairros?



            Dada à proximidade com o Jacarezinho e Manguinhos, o bairro de Benfica também está cheio de usuários de crack que, na noite e madrugada, consomem a droga no ponto de ônibus da Av. Dom Hélder Câmara, no sentido Centro, ao lado da Marinha e em frente a um conjunto residencial. Além disso, também começam a estabelecer-se embaixo da marquise de um imóvel, também na pista sentido Centro, exatamente em frente ao parque gráfico do jornal O Dia. É angustiante a quantidade de pessoas que estamos perdendo para essas drogas. Encontram-se, estes seres humanos, em condições desumanas.
            Parece-me que é iniciativa do Governo Federal o programa “Crack, é possível vencer” (Veja: http://www.brasil.gov.br/enfrentandoocrack/home ). Este conta com o apoio da Secretaria Municipal de Assistência Social, além do Governo do Estado. Sei da existência de um container, deste programa, no bairro do Catete, onde são recolhidos usuários que desejem tratamento. Não disponho de dados estatísticos que possam fazer um “mapa do crack” na cidade, mas estou consciente de que Jacarezinho e Manguinhos (e os bairros do entorno) são, no momento, os que contam com maior número de usuários da droga. Dessa forma, gostaria que alguém me explicasse porque estes bairros NÃO POSSUEM um container destes, que recebem usuários em busca de tratamento? Qual o outro ponto, na cidade, onde os usuáriso de crack podem procurar, além deste que mencionei na Zona Sul? Não quero crer que se trate de um “privilégio” da Zona Sul. 
            Por fim, alguém poderia esclarecer quanto é o aluguel de um container destes? O do Catete foi alugado pela NHJ do Brasil (veja: http://www.nhjcontainer.com.br/ ).
            Em tempo: a imagem acima é de um pacote de crack, usado, que encontrei na calçada central da Av. Dom Hélder Câmara, em frente ao Prezunic de Benfica, na quinta-feira (09/08). Encontrei outro hoje (10/08). Nunca tinha visto isso antes. Indício de aumento no consumo da droga na região? Com a palavra, as autoridades “competentes”.

sábado, 4 de agosto de 2012

Os "Vencidos" também têm rosto e nome, Capítulo 2


Aqui é o estrado para os teus pés,
que repousam aqui,
onde vivem os mais pobres, mais humildes e perdidos.
Quando tento inclinar-me diante de ti,
a minha reverência não consegue alcançar
a profundidade onde teus pés repousam,
entre os mais pobres, mais humildes e perdidos.
O orgulho nunca pode se aproximar
desse lugar onde caminhas
com as roupas do miserável,
entre os mais pobres, mais humildes e perdidos.
O meu coração jamais pode encontrar
o caminho onde fazes companhia
ao que não tem companheiro,
entre os mais pobres, mais humildes e perdidos.
Rabindranath Tagore

Como foi do conhecimento de alguns, a nossa amiga Fabiana, que estava internada no Hospital Municipal Philippe Pinel, em Botafogo, recebeu alta desta unidade na última quarta-feira, dia 01/08/12. Não tivemos ocasião de pensar o momento posterior a esta internação. Nossa amiga Carol Malagolli Engel, no entanto, veio em nosso socorro ao final deste dia, colocando-nos a possibilidade de conseguir internação em alguma clínica de recuperação de dependentes químicos administrada por igrejas protestantes. Dessa forma, não levamos a Fabiana para o endereço de sua mãe, no interior da comunidade do Jacaré. Pernoitou em nossa instituição, enquanto aguardávamos contato dos amigos que se mobilizaram para interna-la.
Algumas dificuldades surgiram. A maioria das clínicas recebiam apenas homens. Existia uma possibilidade para a quarta-feira da semana seguinte (dia 08/08/12). No entanto, um telefonema, ao final da tarde do dia 02/08/12 me alarmou: o amigo Paulo avisava-me que a Fabiana não queria permanecer na sede de nossa instituição. Fui lá imediatamente. Ao chegar, encontro-a com expressão desanimada, na porta. Pedi que entrasse para conversarmos. Narrou-me que sentia falta da droga. Sentiu o peso do desafio que tinha sob as costas. Conversamos, procurei fazê-la ver que não deveria desistir de si mesma. Oramos. Acalmou-se. Fiz-lhe companhia, enquanto Paulo, Carol e Nathália, também de nossa instituição, procuravam pesquisar/contatar pessoas para conseguir uma clínica para Fabiana. Paulo, por fim, entrou em contato com o pessoal da Secretaria Municipal de Assistência Social num container localizado no Catete, em frente ao CIEP Tancredo Neves. Conseguimos que ela fosse encaminhada a um abrigo da Prefeitura onde, posteriormente, seria encaminhada a uma clínica de reabilitação. Eu deveria chegar com ela às 21:30hs porque a van da SMAS chegaria às 22hs para partir.
Ao chegarmos, esperamos o Paulo no ponto de ônibus em frente ao container. Quando ele chegou, fomos de encontro a ele. Entramos no container. Começamos a conversar com o supervisor de plantão, que tinha conseguido, num programa, as informações da Fabiana. Eis que, em determinado momento, ela começa a olhar, de maneira estranha para cima, quase revirando os olhos. Começa a perder o equilíbrio, quase caindo da cadeira. Amparamo-la. Cogitam leva-la para o Pinel. Mudam de ideia. Resolvem leva-la para o Centro de Psiquiatria do Rio de Janeiro (CPRJ), na Gamboa. O motorista correu feito um alucinado na rua. Justifica-se: a Fabiana descontrolou-se no interior da van. Precisamos contê-la. Lá chegando, levamo-la para o interior da unidade e aguardamos atendimento, ainda tendo necessidade de segurá-la. O médico apareceu, examinou-a e fez uma medicação. Em pouco tempo, estabilizava. Neste meio tempo, o pessoal da SMAS retirou-se. Com a situação estabilizada, fui no banheiro. Quando volto, encontro o Paulo nervoso: o médico liberava de alta a Fabiana. Para onde leva-la? Ficamos desnorteados. O médico mostrava-se irritado com a atitude do pessoal da SMAS. Paulo ligou para Nathália e eu para meu amigo Gabriel, a fim de recebermos sugestões sobre o que fazer. Gabriel recomendou-me que conversasse com o médico, buscando negociar com ele a permanência dela na unidade até a parte da manhã, quando buscaríamos um local para ela. Caso o médico se recusasse, recomendou-me buscar o plantão do Judiciário, no prédio do Tribunal de Justiça, no Centro do Rio. Não foi necessário, graças a Deus. O médico, mais calmo, explicou-nos que a atitude dos funcionários da SMAS foi reprovável, largando-nos naquela situação. Resolveu conversar com a Fabiana. Depois da conversa, decidiu mantê-la naquela noite. Saímos de lá eram mais de 23hs. Fabiana estava lúcida novamente. Caminhamos até a Av. Rio Branco onde tomamos o taxi, com o compromisso de retornarmos ao CPRJ às 8hs da manhã. Em casa, ainda li alguma coisa sobre o programa “Enfrentando o Crack”, do container da SMAS que a levamos.
O sono foi tenso. Acordei antes do relógio. Mandei mensagem de celular para meu chefe no trabalho, mensagem que não chegou para ele, conforme me falou mais tarde. Partimos. Na unidade novamente, conversamos com a Assistente Social Karen, que nos atendeu atenciosamente. Explicamos a situação da Fabiana. Ela também se mostrou incomodada com a atitude da SMAS. Disse-nos que por volta das 11hs teria definição da situação da Fabiana, mas o mais certo seria a alta dela. Propôs alternativas de tratamentos/encaminhamentos para outras unidades. Retornamos ao Catete e conversamos com outros servidores, do plantão da última sexta (03/08/12). Deixamos encaminhada a possibilidade da Fabiana ir para o abrigo localizado na Ilha do Governador para, posteriormente, ser direcionada para uma clínica de recuperação de dependentes químicos. Retornamos ao CPRJ. Karen já tinha entrado em contato com o pessoal da SMAS do container. Deu-nos a receita da Fabiana, que naquela manhã mostrava-se muito melhor.
Fomos para o Catete. A previsão era de que a van da SMAS saísse de lá por volta das 15hs. Depois de conferirmos as informações da Fabiana no container e de breve conversa dela com os atendentes de lá, onde reafirmou a vontade de vencer a dependência química, fizemos hora no Museu da República. Pausa importante. Um cochilo breve aliviou-nos um pouco o peso das últimas horas. Faltando uma hora, lanchamos, ela medicou-se e fomos para o container. Fabiana, coitada, ainda teve dor de dente. Paulo providenciou um anestésico local. Assim que ela o aplicou, o motorista da van preparou-se para leva-la. Despedimo-nos. Fabiana estava, graças a Deus, encaminhada novamente. Prometemos-lhe roupas e visitas. Partiu. “Missão dada é missão cumprida”, disse ao Paulo, lembrando o Tropa de Elite... Despedimo-nos com um cansaço bom, do dever cumprido. A palestra do tribuno espírita Divaldo Pereira Franco, que pretendia ir naquele dia, na UERJ, não foi possível. Acho que vivemos uma experiência tão intensa quanto ela.
***
            Hoje (04/08/12), por volta das 16hs, quando fotografava na Praia de São Conrado, com algumas preocupações pessoais na cabeça, tentando distrair-me com a paisagem, o celular toca. “É do abrigo Municipal Irmã Dulce (Unidade Municipal de Albergamento Irmã Dulce, conforme http://www.rio.rj.gov.br/web/guest/exibeconteudo?article-id=1221666 ). É o sr. Marco Aurélio?” perguntou-me. “Sim”, respondi. “Temos uma abrigada, a Fabiana Cruz de Oliveira, que diz ser sua sobrinha, quer falar contigo.” “Pois não”, respondi-lhe. Fabiana mostrava a voz embargada. Parecia emocionada. Falou-me, com entusiasmo, que tinha escrito naquele dia (ela sabe ler, mas sempre assinala que não consegue escrever), que o local era legal, que tinha professoras. Estava tomando seus remédios direito e que lhe deram algumas roupas, mas assinalou que ainda precisava disso. Perguntou-me quando iria lá. “A partir de quarta, provavelmente, Fabiana”, respondi. Despedimo-nos. Meus problemas, que me levaram a dar o passeio pela praia, pareceram menores. Voltei para casa, pensando como contar-lhes esta história, que não acabou, mas que tem vivido capítulos muito melhores agora. Deus permita que continue assim.