sábado, 13 de agosto de 2011

Como escolher um candidato?


            Eleições vão, eleições vêm e nós, eleitores comuns, não filiados a nenhum partido político, continuamos com a velha dificuldade de escolher candidatos a cargos públicos. Evidente que, por questões ideológicas, simpatizamos mais com determinados partidos políticos que outros. Uns posicionam-se a esquerda do espectro das forças políticas, outros à direita. Alguns procuram conciliar ambas as posições, retirando elementos de uma e outra, compondo o que se pode chamar de centro-esquerda ou centro-direita. É certo que presentemente muitos partidos não estão preocupados com ideologias ou programas, o que é verificável na internet, em seus sites, mas principalmente, na prática política de seus filiados, interessados apenas no atendimento de seus interesses e nos daqueles que o financiaram. Pensando essas questões, elenquei alguns itens que considero importantes na escolha de um candidato político.
1. Que seja reconhecidamente honesto. Que não esteja respondendo, na justiça, por qualquer crime, principalmente aqueles que atentam contra a vida e contra o patrimônio público. Penso que algum político, nesta situação deva, antes de candidatar-se, esperar que seu processo seja transitado em julgado, a fim de que se encontre em condições plenas de exercer, com dignidade, o mandato que pretende alcançar. Políticos que, no passado, defenderam/legitimaram atividades ilegais, não merecem a minha confiança.
2. Que não seja político profissional. Existem políticos, no atual cenário brasileiro, que nunca tiveram uma profissão fora da política. Formaram-se em algum curso superior e ingressaram, imediatamente, na política partidária, conseguindo, muitas vezes, cargos públicos ainda muito jovens. Não desdenho da capacidade do jovem. Repudio o oportunismo político de quem vislumbra fazer carreira apenas na política, desprezando a atividade profissional remunerada, seja na iniciativa pública, seja na particular. Para mim, fica muito claro que o interesse de certos jovens, ao assumirem cedo estas responsabilidades em cargos públicos, é o de transformarem-se em profissionais da política. Aprendi muito nos anos de atividade profissional. Foram fundamentais para a minha formação enquanto ser humano. Penso que estes conhecimentos, adquiridos na prática profissional, dão um “choque de realidade” necessário ao homem público. Lastimo aqueles políticos que se vangloriam de afirmarem que são parlamentares (deputado federal, estadual, vereador) há 8, 12, 16 anos ou mais. E isso, muitas vezes, sem fazerem nada de relevante.
3. Que não tenham parentes políticos. Parece que os políticos que inserem seus familiares na Política querem dar a impressão de terem esse “talento” no DNA da família. E aí entram irmãos, filhos, esposas, sobrinhos e todas as ramificações da árvore genealógica possíveis. É evidente que a prática não é nova nem aqui, nem em outras partes do mundo. Ela remonta, certamente, às práticas de poder local de monarcas (e as sucessões hereditárias do poder), bem como às famílias mais poderosas que ocupavam cargos públicos ou desempenhavam atividade parlamentar, muito típico aqui no Brasil. Os mais antigos na política procuram, nas eleições, servir de plataforma para seus parentes novatos na política, procurando transferir para eles a confiabilidade que seus eleitores depositaram neles. E aí temos patriarcas que são deputados federais, com filhos ocupando cargos de deputado estadual e vereador e já pensando nas possibilidades dos irmãos mais novos. Há filhos de políticos que se lançam às eleições depois de ocuparem postos chaves em Juventudes partidárias, num esforço de ganharem representatividade interna, somada à já existente por serem filhos de algum figurão da política. Para mim, é bem claro que estes “herdeiros políticos” desejam fazer carreira profissional na política, nos moldes do que expus no item 2.
4. Que tenha programa político e deixe claro seu posicionamento ideológico. A despeito de alguns partidos políticos desprezarem a existência de um programa político, bem como as ideologias de seus partidários, considero isso fundamental. Dessa forma, já descarto também estes partidos “nebulosos”, que funcionam como legendas de aluguel para políticos oportunistas. Quase sempre, os políticos que não demonstram sua carta de intenções e nem proclamam seu posicionamento político claramente (direita, esquerda, centro-esquerda, etc.) preferem estas legendas. Mas não é via de regra, evidentemente. E não me falem que não existem mais ideologias. A morte das ideologias, como diz Paulo Freire, é ideologizada. Apagar as ideologias é o desejo de muitos que defendem soluções “técnicas” que figuram, em última análise, como “caminhos únicos” a seguir, “únicas alternativas” para a solução de determinados problemas econômicos e sociais, quando toda escolha que se faça, via de regra, é política, diz respeito a crenças, visões de mundo e posicionamentos políticos, ainda que não declarados explicitamente.
5. Que se posicione a favor da classe trabalhadora e defenda seus interesses. Dificilmente a grande maioria dos políticos faz propostas claras que atentem contra os interesses dos trabalhadores. Quando muito, fazem promessas mais “gerais”, nada específicas, o que lhes dá respaldo para manobrarem quando lhes convenha. Políticos que não são favoráveis a aumento de salários, à redução de jornadas de trabalho, que não defendam o servidor público e que pretendam reduzir direitos da classe trabalhadora com discursos de flexibilização da legislação trabalhista não merecem o meu voto.
6. Que defendam o Serviço Público de qualidade, promovido por servidores de carreira, concursados e que sejam contrários a qualquer tipo de privatização. Observamos, presentemente, um esforço de desmantelamento do serviço público que não começou agora, que vem operando gradualmente em diversas vias, quais sejam:
6.1. A precarização das condições de trabalho;
6.2. Baixos salários;
6.3. Falta de incentivos para melhor qualificação dos servidores;
6.4. Terceirizações que operam da seguinte forma:
6.4.1. Na gestão de unidades públicas, como as Organizações Sociais, atualmente na moda, sem comprovada eficácia;
6.4.2. Na presença de funcionários terceirizados, que muitas vezes recebem salários menores e não tem respeitados seus direitos trabalhistas. Em algumas situações, ganham melhor que os servidores para desempenharem as mesmas tarefas que estes (Ex.: Médicos contratados por Organizações Sociais na cidade do Rio de Janeiro).
7. Que mantenham contato com os eleitores de todas as formas possíveis e que, quando eleitos, prestem contas de suas ações. Muita gente só encontra os políticos no período eleitoral, onde eles andam, alegremente, pelas ruas, apertando mãos, dando abraços, segurando crianças de colo, conversando “atentamente” com potenciais eleitores, comendo comidas que, para eles, são exóticas (porque não habituados)... Enfim, procuram visibilidade. Procuram mostrar-se o mais próximo das pessoas, como se fosse um deles, um legítimo representante dos interesses do povo. Depois das eleições, somem, evaporam. Se conseguirem seu telefone e endereço é apenas para lhes mandar, no seu aniversário, uma cartinha felicitando-lhe e, nas eleições, sua propaganda através de mala direta. Quando procurados, principalmente, pela internet, ferramenta interessante para contato entre pessoas, quase sempre não se dignam responder-lhe as indagações. Quando o fazem, confrontados por perguntas “desconfortáveis” ensaiam uma evasiva, dão uma opinião bem geral, que não lhes comprometa. Escutar alguma sugestão sua? É período de (re)eleição? Se for, podem te escutar, se não for, vai ter que esperar até que seja...
8. Que não troque de partido como trocamos de meias. Olha, ninguém leva a sério aquela pessoa que vive trocando de time de futebol. O “vira-casaca” é sinônimo de alguém que não entende nada de futebol ou, quando muito, de oportunista, porque quase sempre escolhe o “time da moda” para torcer. Ora, merece crédito aquele político que vive trocando de partido de acordo com seus interesses? Quase sempre estes políticos “espertinhos” migram para partidos de ideologia não definida, que lhes servem de legendas de aluguel. Quando são vencidos aí por outros que são como ele, quando seus interesses são abafados pelos interesses de outros políticos como ele, resolve sair, quando não fundar um partido. Não confio em político assim.
9. Político que não tenha “Centro Social”. Estes locais oferecem diversos serviços à população que o poder público oferece ou poderia oferecer. Atendimentos médicos e odontológicos, “empréstimo de ambulâncias”, aulas de artes marciais e por aí a fora. Para mim fica claro que a intenção destes políticos é a de conquistarem fidelidades das pessoas que recebem os serviços aí oferecidos. Agora pensemos juntos: se o político tem um Centro Social que oferece tratamento dentário, por exemplo, ele se importará com o atendimento de quem necessite de dentista, caso ele seja vereador, por exemplo? Será que se o eleitor encontrar dentista no Posto de Saúde que ofereça serviço de qualidade, ele procurará o Centro Social do político? Então, para mim, o político que tem Centro Social lança mão da precariedade da oferta de serviços públicos para alimentar uma clientela que tem potencial de se transformar em seus eleitores. Se ele se vale dessa precariedade do serviço público, ele não tem interesse em melhorá-lo, pois do contrário, o Posto de Saúde concorrerá com seu Centro Social.
10. Políticos que não estendem faixas de agradecimento por suas realizações. Muitos podem alegar que não foram os próprios políticos que estenderam estas faixas. Verdade. Mas as pessoas que recorreram a eles, que tem interesses políticos e partidários sim. E esses políticos não se aborrecem com isso... Dessa forma, fazem propaganda eleitoral muitas vezes fora de época. Além disso, constroem a imagem do político como alguém que, ao realizar algo em benefício de determinada comunidade/bairro, está realizando um favor, e não uma obrigação, como de fato o é. O político foi eleito para lutar pela melhoria dos serviços prestados à população. O que ele faz não é favor. Ele está ali para isso. Quem cumpre seu dever não faz nada demais.
            Evidente que o assunto não se esgota aqui. Outros pontos podem ser levantados, alguns destes podem ser suprimidos. Tudo isso de acordo com a visão política de cada um. Estes pontos dizem respeito àquilo que acredito necessário para o indivíduo que deseja ingressar na Política mantendo postura ética adequada. Dizem respeito, também, as minhas crenças políticas.

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