terça-feira, 3 de dezembro de 2013

"Será que já raiou a Liberdade?"



1 - Não tenho elementos suficientes para comparar os casos de racismo estadunidenses com os brasileiros. Sei de alguns pontos de contato apenas que, aliás, são bem intrigantes. A população carcerária dos EUA, em sua maioria, é de negros, assim como a nossa. De acordo com uma socióloga da Universidade de Ohio, existem mais negros encarcerados hoje do que escravizados no século XIX. (Ver: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/30858/sem+tempo+para+sonhar+eua+tem+mais+negros+na+prisao+hoje+do+que+escravos+no+seculo+xix.shtml ) No Brasil, são maioria também. (Ver: http://www.cps.fgv.br/cps/CD_Retratos_Carcere/Pro_Curto_retratos_dos_pres%C3%ADdios_cariocas_VERSAOCOMPLETA.pdf ) O que tem em comum? A pobreza.

1.1 - Mas... A pobreza não é uma gripe ou uma virose, ocasional, que passa ou eventualmente mata. A pobreza e a miséria (sua expressão mais cruel) são históricas. Os filhos dos pobres e dos miseráveis tem enormes dificuldades em romper a linha da pobreza e da miséria e ascender socialmente, por conta de toda conjuntura contrária (saúde, educação, condições de vida de qualidade, etc). Agora, o branco pobre NÃO É VISTO DA MESMA MANEIRA QUE O NEGRO POBRE. Há um estigma social na cor, infelizmente, que reforça a desgraça de ser pobre ou miserável. Aqueles jovens que foram colocados para fora do shopping no Ceará que o digam. (Ver: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/11/jovens-negros-sao-humilhados-em-shopping-e-gravam-tudo.html ).

1.2 - E qual o retrato da pobreza, que é histórica? Quando entramos nas favelas, de que etnia é a maioria das pessoas? Quando passamos ou entramos em cracolândias, qual a etnia da maioria das pessoas ali? São, por acaso, como aquele chamado "mendigo gato"? (Ver: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/10/mendigo-gato-faz-ensaio-fotografico-apos-deixar-reabilitacao-veja-fotos.html ) E os moradores de rua, quantos são padrão FIFA (Fernanda Lima/Rodrigo Hilbert)? E as transmissões de TV no novo Maracanã? Repararam que embranqueceram a platéia?

2 - O Estigma social que tentam impor aos negros é introjetado por muitos deles. Acabam reproduzindo o preconceito que são vítimas. Como isso? Já viram aqueles casos onde negros não se autodefinem negros? Por que fariam isso? Para mim, o fazem porque não veem vantagens em se apresentar como tais, muito pelo contrário. Devem fazê-lo para "evitar maiores transtornos". Tentam descolar-se porque sabem que a Polícia, nas abordagens que faz, prioriza eles; porque são vistos como "menos bonitos" do que outros segmentos étnicos brasileiros, vide o caso Fernanda Lima/Camila Pitanga X FIFA.

3 - A televisão reforça os estigmas. Os papéis subalternos são... Dos negros. (Ver: http://monografias.brasilescola.com/arte-cultura/a-representacao-mulher-negra-na-teledramaturgia-brasileira.htm ). Concursos de beleza pela TV. Miss não sei das quantas. Brancas! Globeleza ou Musa do Carnaval: Negra. Longe de promover a integração, a TV reforça a divisão. E não o faz porque é manipuladora. Manipula, também, e não é pouco. Agora, para dar certo o que aparece na telinha, os programas precisam identificar-se com os valores dos telespectadores, do contrário não são vistos. Alguém demanda assistir documentários, programas de debates, etc? Por que não o fazem? Porque não gostam. Estes programas tem menor audiência porque não são muitos os que os assistem. Trocando em miúdos: A TV, assim como os políticos, são reflexos nossos.

4 - O racismo está naturalizado socialmente. Muita gente é e não sente. Quem sabe nós o somos, também, e não temos consciência? Quando alguém vai descrever, para um terceiro, uma pessoa negra, sua etnia é recordada: "Fulano, aquele negão, alto, forte, etc...", o mesmo não acontece com algum branco, alto, forte, que não é descrito como tal. "Macaco", "negro quando não caga na entrada, caga na saída", "fazendo serviço de preto", são expressões que qualquer um de nós já ouviu por aí e muita gente usa sem sentir.

5 - Há uma dívida social com a pobreza. Quando ela for combatida, de fato, a maioria da população negra, que perfila com os excluídos, ascenderá. Mas é bom que a gente não perca de vista que tem muita gente com uma Casa Grande batendo no peito.

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